Denúncia


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Denúncia
Denuncia


Sonharei, no teu seio calmo,
O sonho invisível do cego de nascença.

Dormirei, no teu cerrar de pálpebras,
Como um peixe desliza entre os ramos de árvore
Reflectidos na água.

Dormirei, nas tuas mãos pousadas no meu corpo,
O desejo de te acariciar sem perigo
- não vá tirar-te escamas, borboleta presa.

Dormirei, no teu sexo, a solidão do meu
Ao existir para que eu pense em ti.

Dormirei, na tua vida, a teimosia humana
De um sentido universal para as coisas connosco.

E se, depois, meu amor, formos estéreis,
Se a demora do tempo tiver tido um gesto abandonado,
E a morte, à nossa volta, um moleiro sem trigo,
O mundo que vier inveja-nos
E o nosso espírito há-de perdoar-nos.

Io sognerò, sopra il tuo seno quieto,
L’invisibile sogno del cieco dalla nascita.

Io dormirò, al calar delle tue palpebre,
Come un pesce che sguscia tra i rami d’un albero
Riflessi dentro l’acqua.

Io dormirò, con le tue mani posate sul mio corpo,
L’ansia d’accarezzarti senza pericolo
- non ti porterà via le scaglie, farfalla prigioniera.

Io dormirò, sul tuo sesso, la solitudine del mio
Che esiste perché io ti pensi.

Io dormirò, nella tua vita, l’umana ostinazione
Di voler dare un senso universale alle nostre cose.

E se poi, amor mio, saremo sterili,
Se la pigrizia del tempo avrà ignorato un gesto
E la morte, a noi d’intorno, sarà un mugnaio senza grano,
Il mondo che verrà sarà invidioso
E il nostro spirito ci dovrà perdonare.

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Egon Schiele
Amanti (1913)
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