A Portugal


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Jorge de Sena »»
 
Peregrinatio ad loca infecta (1969) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


A Portugal
Al Portogallo


Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.

Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
á luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
com esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:

eu te pertenço. És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não.

Questa è la mia amata patria benedetta. No.
Non è benedetta, poiché non se lo merita.
E non è mia amata, è solo matrigna.
E non è mia patria, poiché io non merito
la scarsa sorte d'esservi nato.

Niente mi stringe o lega alla sua grettezza
pari a un grande rutto di passate glorie.
Là ho i miei più cari amici,
li rimpiango là, ma sono amici
solo per essermi amici, e nulla più.

Ributtante sterco del romano impero;
rimasuglio d’invasioni; sudicia salsedine
di fogna atlantica; grottesca faccia
di palta, di cupidigia, e di viltà,
di bassezza, di frivola ignoranza;
terra di schiavi, deretano in mostra a sentir
cigolare nella nebbia la nave dell'Ignoto;
terra di burocrati e di prostitute,
tutti credenti nel miracolo, casti
nelle ore incerte di morbo recondito;
terra d’eroi a peso d'oro e di sangue,
e di santi con bottega di generi vari
come essenza della virtù; terra triste
calcinata dalla luce del sole, incipriata, falsa,
piena di gente affabile con gli stranieri
che lasciano monete ed esportano pulci,
oh pulci lusitane, verso l'Europa;
terra di monumenti dove il popolo
con la merda firma il proprio anonimato;
terra-museo dove si vive ancora,
coi maiali per strada, in case celtiche;
terra di poeti tanto sentimentali
da andare in trance per un tanfo d’ascella;
terra di pietre spianate, aride
come quei sentimenti di otto secoli
di ruberie e padroni, baroni o conti;
oh terra di nessuno, nessuno, nessuno:

io ti appartengo. Sei dissoluta, spregevole,
sei peggio d’una cagna in calore,
sei peste e fame e guerra e mal di cuore.
Io ti appartengo: ma che tu sia mia, no.

________________

Ambrogio Lorenzetti
Allegoria del Cattivo Governo (1338-1339)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (11) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (109) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (467) Pássaro de vidro (52) Pedro Mexia (40) Poemas dos dias (28) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)