Ray Charles


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Ray Charles
Ray Charles


Cego e negro, quem mais americano?
Com drogas, mulheres e pederastas,
a esposa e os filhos, rouco e gutural
canta em grasnidos suaves pelo mundo
a doce escravidão do dólar e da vida.
Na voz, há o sangue de presidentes assassinados,
as bofetadas e o chicote, os desembarques
de «marines» na China ou no Caribe, a Aliança
para o Progresso da Coreia e do Viet-Nam,
e o plasma sanguíneo com etiquetas de black e white
por causa das confusões.
E há as Filhas da Liberdade, todas virgens e córneas,
de lunetas. E o assalto ao México e às Filipinas,
e a música do povo eleito por Jeová e por Calvino
para instituir o Fundo Monetário dos bancos e dos louros,
a cadeira eléctrica, e a câmara de gás. Será que ele sabe?
Os corais melosos e castrados titirilam contracantos
ao canto que ele canta em sábias agonias
aprendidas pelos avós ao peso do algodão.
É cego como todos os que cegaram nas notícias da
 United Press,
nos programas de televisão, nos filmes de Holywood,
nos discursos dos políticos cheirando a Aqua Velva e
 a petróleo,
nos relatórios das comissões parlamentares de inquérito,
e da CIA, do FBI, ou da polícia de Dallas.
E é negro por fora como isso por dentro.
Cego negro, uivando ricamente
(enquanto as cidades ardem e os «snipers» crepitam)
sob a chuva de dólares e drogas
as dores da vida ao som da bateria,
quem mais americano?

Cieco e negro, chi più americano?
Fra droghe, donne e pederasti,
la moglie e i figli, roco e gutturale
canta in soave gracchiare per il mondo
la dolce schiavitù del dollaro e della vita.
Nella voce, c’è il sangue di presidenti assassinati,
gli insulti e la frusta, gli sbarchi
di «marines» in Cina o ai Caraibi, l’Alleanza
per il Progresso della Corea e del Viet-Nam,
e il plasma sanguigno con etichette di black e white
a causa di confusioni.
E ci sono le Figlie della Libertà, tutte vergini e dure,
con gli occhiali. E l’assalto al Messico e alle Filippine,
e la musica del popolo eletto da Geova e da Calvino
per istituire il Fondo Monetario delle banche e dei bianchi,
la sedia elettrica, e la camera a gas. Chissà se lo sa?
I cori melensi e castrati intonano controcanti
al canto che lui canta in sapienti agonie
apprese dagli antenati sotto il peso del cotone.
È cieco come tutti quelli che rimasero abbagliati dalle
 notizie dell’United Press,
dai programmi della televisione, dai film di Hollywood,
dai discorsi dei politici profumati d’Aqua Velva e di
 petrolio,
dalle relazioni delle commissioni parlamentari d’inchiesta,
e dalla CIA, dalla FBI, o dalla polizia di Dallas.
Ed è negro di fuori come lo è di dentro.
Negro cieco, che ulula maestoso
(mentre bruciano le città e gli «snipers» crepitano)
sotto una pioggia di dollari e di droghe
le angustie della vita al suono della batteria,
chi più americano?

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Marco Zeno
Ray Charles (Montreux, 2013)
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