Uma Sepultura em Londres


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Uma Sepultura em Londres
Una tomba a Londra


No frio e no nevoeiro de Londres,
numa daquelas casas que são todas iguais,
debruça-se sobre todas as dores do mundo,
desde que no mundo houve escravos.
As dores são iguais como aquelas casas
modestas, de tijolo, fumegando sombrias, solitárias.
Os escravos são todos iguais também:
De Ramsés II, de Cleópatra, dos imperadores Tai-Ping
De Assurbanípal, do Rei David, do infante
D. Henrique, dos Sartoris de Memphis, dos
civilizados barões do imperador D. Pedro II.
Ou das «potteries», ou da Silésia, de África,
da Rússia. (E o coronel Lawrence da Arábia
chegou mesmo a filosofar sobre a liberdade moral
dos jovens escravos com quem dormia.)
No frio inenarrável das eras e das gerações de
 escravos,
que nenhuma lareira aquece no seu coração,
escreve artigos, panfletos, lê interminavelmente,
e toma notas, historiando infatigavelmente
até à morte. Mas o coração, esmagado
pelo amor e pelos números, pelas censuras
e as perseguições, arde, arde luminoso
até à morte. – Eu quero ver publicadas
as suas obras completas – diz-lhe o discípulo.
– Também eu – responde. E, olhando as montanhas
de papéis, as notas e os manuscritos, acrescenta com
esperança e amargura – Mas é preciso
escrevê-las primeiro -.
Como têm sido escritas e rescritas! Como
não têm sido lidas. Mas importa pouco.
Naquela noite – creiam – a neve inteira
derreteu em Londres. E houve mesmo
um imperador que morreu afogado
em neve derretida. Os imperadores, em geral,
libertam os escravos, para que eles fiquem mais baratos,
e possam ser alugados sem responsabilidade alguma.
O coronel Lawrence (como anotámos acima), com os
 seus jovens escravos,
também tinha um contrato de trabalho. Mais tarde,
criou-se mesmo a previdência social.
No frio e no nevoeiro de Londres, há, porém,
um lugar tão espesso, tão espesso,
que é impossível atravessá-lo, mesmo sendo
o vento que derrete a neve. Um lugar
ardente, porque todos os escravos, desde sempre todos
aqueles cuja poeira se perdeu – ó Spártacus –
lá se concentram invisíveis mas compactos,
um bastião do amor que nunca foi traído,
porque não há como desistir de compreender o
mundo. Os escravos sabem que só podem
transformá-lo.
Que mais precisamos de saber?

Nel freddo e nella nebbia di Londra,
in una di quelle case che sono tutte uguali,
si affaccia sopra tutti i dolori del mondo,
da che nel mondo ci son stati schiavi.
I dolori sono uguali come quelle case
modeste, di mattoni, che fumano tristi, solitarie.
Anche gli schiavi sono tutti uguali:
Da Ramsete II, da Cleopatra, dagli imperatori Tai-Ping
Da Assurbanipal, dal Re David, dall’infante
D. Henrique, dai Sartoris di Memphis, dai
baroni civilizzati dell’imperatore D. Pedro II.
O dalle «potteries», o dalla Slesia, dall’Africa,
dalla Russia. (E il colonnello Lawrence d’Arabia
arrivò persino a filosofare sulla libertà morale
dei giovani schiavi con i quali dormiva.)
Nel freddo inenarrabile delle ere e delle generazioni di
 schiavi,
che nessun focolare riscalda nel suo cuore,
egli scrive articoli, pamphlet, legge ininterrottamente,
e prende nota, esponendo infaticabilmente i fatti
fino alla morte. Ma il cuore, sopraffatto
dall’amore e dai numeri, dalle censure
e dalle persecuzioni, arde, arde luminoso
fino alla morte. – Io voglio veder pubblicate
le sue opere complete – gli disse un discepolo.
– Anch’io – risponde. E, guardando le montagne
di carte, le note e i manoscritti, soggiunge con
speranza ed amarezza – Ma prima
occorre scriverle -.
Quanto sono state scritte e riscritte! E come
non son state lette. Ma poco importa.
Quella notte – credetemi – tutta la neve del mondo
si riversò su Londra. E ci fu anche
un imperatore che morì affogato
nella neve disciolta. Gli imperatori, in generale,
liberano gli schiavi, perché risultino più convenienti,
e possano essere impiegati senz’alcuna responsabilità.
Il colonnello Lawrence (come abbiamo reso noto prima),
 coi suoi giovani schiavi,
anche lui aveva un contratto di lavoro. In seguito,
venne creata la previdenza sociale.
Nel freddo e nella nebbia di Londra, c’è, però,
un luogo così spesso, così spesso,
che è impossibile attraversarlo, anche se ci passa
il vento che discioglie la neve. Un luogo
travolgente, perché tutti gli schiavi, da sempre tutti
quelli di cui la polvere s’è persa – oh Spartaco –
là si concentrano invisibili ma compatti,
un baluardo d’amore che mai fu tradito,
perché non c’è modo di rinunciare a comprendere il
mondo. Gli schiavi sanno di poterlo solamente
trasformare.
Che altro ci occorre sapere?

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Laurence Bradshaw
Tomba di Karl Marx (Londra) (1956)
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