Até casa, o caminho é uma serpente...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Francese »»
«« 97 / Sommario (99) / 100 »»
________________


Até casa, o caminho é uma serpente...
Fino a casa, il percorso è un serpente...


Até casa, o caminho é uma serpente
Que se alimenta da sua própria substância.
Até lá, é preciso atravessar a fantasmagoria
Dos bastiões e casamatas, fitando com olhos de coruja
Os focos de luz azulada que lhes estão apontados;
É preciso encontrar o espectro que acende o cigarro,
Pigarreia, pede uma indicação e se desvanece,
Os esqueletos de metal dos guindastes,
Como mastodontes num museu de história natural;
É preciso ver cruzar, na distância,
As luzes penadas, desencarnadas, de um comboio,
Ver as chispas torturadas que as suas rodas
Arrancam aos carris;
É preciso sentir a respiração ofegante,
Moribunda, das árvores sob a primeira neve,
Farejando o fim em curso, que as retomará,
Mudado já em princípio iminente;
É preciso ouvir o rumorejar da corrente,
A água que se repete e repete na noite,
Quando os rios da terra são também
Os rios do céu; é preciso ouvir essa água,
O sinal do regresso sem fundo falso,
E então sei que estou em casa.

Fino a casa, il percorso è un serpente
Che si alimenta della sua stessa sostanza.
Fin là, occorre attraversare la fantasmagoria
Di bastioni e casematte, fissando con occhi di civetta
I fari di luce bluastra puntati su di loro;
Occorre imbattersi nello spettro che accende la sigaretta,
Scatarra, chiede un’indicazione e svanisce,
Negli scheletri di metallo degli argani,
Come mastodonti in un museo di storia naturale;
Occorre veder passare, in lontananza,
Le luci patite, disincarnate, di un treno,
Vedere le faville torturate che le sue ruote
Strappano ai binari;
Occorre sentire il respiro affannoso,
Morente, degli alberi sotto la prima neve,
Fiutando la fine in corso, che li preserverà,
Essendo già mutata in principio imminente;
Occorre ascoltare il rumoreggiare della corrente,
L’acqua che si ripete e ripete nella notte,
Quando i fiumi della terra sono anche
I fiumi del cielo; occorre ascoltare quest’acqua,
Il segnale del ritorno senza doppiofondo,
Ed è allora che so di stare a casa.

________________

Alfred Sisley
La neve a Louveciennes (1878)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (20) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (429) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (21) Poemas Sociais (30) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)