Canção de amor escrita sobre o mapa da América


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Eduardo Degrazia »»
 
A Porta do Sol (1982) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Canção de amor escrita
sobre o mapa da América
Canzone d’amore scritta
sulla carta geografica dell’America


O mapa, o traço
cortando planícies, punas,
os verdes, os vagos, a montanha.

O mapa é superfície,
não sangra,
não é soco
nem entranha.

O mapa
não tem botas,
não tem locas,
não tem bocas,
não tem coxas.

O mapa
tem limites,
trâmites,
fronteiras,
milícias,
alfândegas.

O mapa
se conforma
a ser janela,
a ser mirante,
a não ter ninguém errante.

Não existe índio
vago, mochileiro,
viajante, gaúcho,
cholo, baiano,
só pontos no mapa.

Onde os rios largos,
o cristal, a neve,
os peraus, o pó,
as casas, as coxilhas,
as facas, os tiros,
os bichos, os nichos,
os apetrechos, os calos,
o sexo, a morena?

O mapa se contenta
com linhas retas!

Onde o alimento
no mapa, a saga,
a bandeira,
onde Sepé Tiarajú,
onde Tupac Amaru?
O mapa amordaça!

Onde o canto,
o samba, a diablada,
o harawi mais terno?
Ninguém canta
no mapa?

O embuste no mapa,
o truste, o cartel,
a multinacional,
onde o povo
no mapa?

O gemido, a guerra,
o passo, o laço,
bocas rangendo,
os seixos, notas,
os dós, os dedos,
a trança, o poncho,
quem morre à míngua
no mapa?

Quem se acovarda?
Quem se atreve?
Quem se desloca?
Quem se aborrece?

Quem cruza fronteiras,
cavalga, percorre trilhas,
trilhos, estações,
maldições, poções mágicas?

Que coisas trágicas
se desconhece
nas cidades,
nas malocas,
nas bibocas,
pontos na mapa?

No entrevero de linhas
coisas falsas
coleiam, pervertem,
coisas apodrecem?

Quem se enternece
a horas tantas da madrugada,
quem lê um poema,
quem adormece nos braços
da mulher amada?

Nos campos e matas
quem luta e se mata?

Dos camponeses,
e dos barqueiros,
e dos vaqueiros,
e dos mateiros,
o mapa não fala?

Abro o mapa
e canto de amor
para América:
e rio todos os risos
e enrosco todos os cabelos
e piso todos os passos
e suo todos os poros
e choro todos os olhos
e corro todos os córregos
e canto todos os pássaros
e sonho todos os riscos
e corto todos os veios
e sangro todas as veias
e durmo todos os corpos
e desperto todas as injustiças
e incendeio todos os seios
e bebo todos os jarros
e monto todos os cavalos
e morro todas as mortes
e sofro todas as sortes
e alucino todos os sexos
e abro todas as cadeias
e voo todas as asas.

La carta, il tratto
che taglia pianure, steppe,
il verde, i vuoti, la montagna.

La carta è superficie,
non ferisce,
non è pugno
né viscere.

La carta
non ha anfibi,
non ha nidi,
non ha bocche,
non ha cosce.

La carta
ha limiti,
tramiti,
frontiere,
milizie,
dogane.

La carta
s’adatta
a far da finestra,
a far da belvedere,
a non farti smarrire.

Non esiste indio
errante, vagabondo,
viaggiatore, gaucho,
creolo, baiano,
solo dei punti sulla carta.

Dove sono i fiumi larghi,
il cristallo, la neve,
le gole, la polvere,
le case, la pampa,
le lame, gli spari,
le bestie, i nidi,
le munizioni, i calli,
il sesso, la moretta?

La carta s’accontenta
di linee rette!

Dov’è il nutrimento
sulla carta, la saga,
la bandiera,
dov’è Sepé Tiarajú,
dove Tupac Amaru?
La carta imbavaglia!

Dov’è il canto,
il samba, la diablada,
l’harawi più soave?
Non canta nessuno
sulla carta?

Il raggiro sulla carta,
il trust, il cartello,
la multinazionale,
dov’è il popolo
sulla carta?

Il gemito, la guerra,
il passo, il laccio,
bocche ringhianti,
i sassi, le note,
i do, le dita,
la treccia, il poncho,
chi muore d’indigenza
sulla carta?

Chi si spaventa?
Chi s’arrischia?
Chi si trasferisce?
Chi si spazientisce?

Chi valica frontiere,
cavalca, percorre sentieri,
binari, stazioni,
maledizioni, pozioni magiche?

Che fatti tragici
s’ignorano
nelle città,
nelle capanne,
nelle caverne,
puntini sulla carta?

Nel garbuglio di linee
ci son cose false
che strisciano, infettano,
cose che marciscono?

Chi s’intenerisce
a una cert’ora di notte,
chi legge poesia,
chi s’addormenta abbracciato
alla donna amata?

Sui campi e nei boschi
chi lotta e s’ammazza?

Dei contadini,
e dei barcaioli,
e dei mandriani,
e dei taglialegna,
la carta non parla?

Apro la carta
e canto d’amore
per l’America:
e sorrido tutti i sorrisi
e arriccio tutti i capelli
e percorro tutti i passi
e sudo tutti i pori
e piango tutti gli occhi
e fluisco in tutti i ruscelli
e canto tutti gli uccelli
e sogno tutti i rischi
e sbarro tutte le fonti
e ferisco tutte le vene
e addormento tutti i corpi
e risveglio tutte le ingiustizie
e incendio tutti i petti
e bevo tutte le brocche
e monto tutti i cavalli
e muoio tutte le morti
e subisco tutti i destini
e ammalio tutti i sessi
e spezzo tutte le catene
e volo tutte le ali.

________________

Alighiero Boetti
La Mappa di Alighiero Boetti (1971-1973)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (107) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (23) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)