ut pictura poesis


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ut pictura poesis
ut pictura poesis


nalgumas pinturas busco a força latente dos volumes,
o espaço pensado, a solidez angelical das figuras,
a sua comovida geometria. mas noutras, sinto a sombra
comendo os contornos das faces, ou o efeito de espelho

anulando o suporte e um sentido único da matéria.
e então nada pesa no mundo, salvo uma consciência
embargada no alongamento procurado das formas
ou nalguma ambiguidade dos sorrisos.

noutras ainda, a tactilidade restitui-me o que imagino ou sei
da carne das mulheres, de algumas pétalas. e noutras, o peso
das madeiras, dos metais, dos estofos, sob as qualidades
da luz, a variação dos silêncios metafísicos, a linha

serpentinada que enreda o movimento de um dorso
como um fio de tempo. em todas, busco
uma medida humana da representação,
mesmo que ela flutue numa irrealidade palpável

em que também posso reconhecer as dimensões efémeras
do que sou, contraditórias, obscuramente pressentidas,
quantas vezes informuladas ou desfiguradas
nas sinópias da alma. ut pictura poesis.
in certi dipinti cerco la forza latente dei volumi,
lo spazio pensato, la solidità angelicale delle figure,
la loro commossa geometria. ma in altri, sento l’ombra
che smangia i contorni dei volti, o l’effetto dello specchio

che cancella il supporto e un senso unico della materia.
e allora nulla importa al mondo, eccetto una coscienza
arenata nella ricerca di un distanziamento dalle forme
o in qualche ambiguità dei sorrisi.

in altri ancora, il tatto mi restituisce ciò che immagino o so
della carne delle donne o di certi petali. e in altri, il peso
dei legni, dei metalli, delle stoffe, sotto il variare della luce,
mi offre l’alterazione dei silenzi metafisici, la linea

serpeggiante che crea il movimento d’un dorso
come un filo di tempo. in tutti, io cerco
una misura umana di rappresentazione,
pur se essa fluttua in un’irrealtà palpabile

in cui posso anche riconoscere le dimensioni effimere
di ciò ch’io sono, contraddittorie, oscuramente presagite,
tante volte inespresse o sfigurate
nelle sinopie dell’anima. ut pictura poesis.
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Pablo Picasso
Studio e Donna con camicia in poltrona (1914)
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