na raiz dos sonhos


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na raiz dos sonhos
alla radice dei sogni


sei que aquela oliveira está ali
desde o princípio do mundo, habitando o tempo
e enredada no tempo à tua espera.

sei que as nuvens são de lilás escurecendo e resolvem
passar em ronda lenta nas fronteiras já imperceptíveis
do pôr do sol. sei que pressentes que assim terá de ser.

sei que ouvimos o sopro irregular do que diz o noroeste
de sílabas salinas, prolongando os búzios e as
 ressonâncias
onde ecoa o mar, enquanto a cor das nuvens

for passando morosa do lilás às madrepérolas da noite
e nós dermos as mãos nesse silêncio atlântico. e ainda
 sei que o vento
se arrepia ao de leve convocando os deuses comovidos

para essa árvore sagrada em que estremece
uma folhagem verde-cinza de estrídulas cigarras
que a acompanham desde o quente começo do mundo.

deste mundo, teu e meu, agora descoberto, ou a
 reinventar
numa sageza ainda assim sobressaltada,
numa ternura à beira da incandescência,

num princípio de pura alegria a que iremos dando vários
 nomes,
coisas da alma empenhada na sua liberdade
e em fantásticas lunações e trepadeiras.

sei como sobem jasmins e madressilvas
e as essências do verão em seus caules delicados
emaranhando-se nos sonhos, na raiz crepuscular

e musical dos sonhos. sei que te encontro aí.
so che quell’ulivo si trova lì
dal principio del mondo, abitando il tempo
e avviluppato nel tempo, in attesa di te.

so che le nuvole tendono al lilla verso sera e scelgono
di passare in ronda lenta le frontiere già impercettibili
del tramonto. so che intuisci che sarà così.

so che sentiamo il respiro irregolare che viene da nordest
e parla con sillabe saline, indugiando in conchiglie
 risonanti
ove riecheggia il mare, mentre il colore delle nuvole

si trasforma pigramente dal lilla al madreperla della notte
e noi ci teniamo per mano in questo silenzio atlantico. e so
 anche che il vento
rabbrividisce lieve nel convocare gli dei commossi

intorno a quest’albero sacro in cui freme
il fogliame grigio-verde per lo stridio delle cicale
che l’accompagna sin dal rovente inizio del mondo.

di questo mondo, tuo e mio, scoperto adesso, o da
 reinventare
con una saggezza ancora così inquieta,
con una tenerezza prossima all’incandescenza,

in un principio di pura allegria a cui daremo differenti
 nomi,
cose dell’anima impegnata nella sua libertà
e in fantastiche lunazioni e rampicanti.

so come salgono gelsomini e caprifogli
e come le fragranze estive coi loro steli delicati
s’abbarbicano ai sogni, alla radice crepuscolare

e musicale dei sogni. so che ti troverò lì.
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Vincent van Gogh
Alberi di ulivo (1889)
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