Transportes publico & Angústias privadas


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Transportes publico & Angústias privadas
Trasporti pubblici & Angosce private


Não trazias um retrós,
mas antes uma camisa negra, enfunada,
e a velha carreira de eléctricos
(que eu cheguei a conhecer)
foi substituída por um autocarro
que rescende a pessoas em geral inócuas.
Que fazer do Bernardo, agora?
 
Não pude pensar nisso em que penso tanto,
por vontade técnica de sofrer:
os gestos por detrás do mínimo objecto,
os corredores de angústia inerentes
à feitura da caneta, à tipografia,
ao empregado de balcão que há-de vender ou não
um livro parecido com tantos outros,
onde poemas como este terão de responder
a um código de barras que é especificamente aquele
e que adormecerá pelos séculos quase inconfundido.
 
Os teus olhos proibiam-me estas circunvoluções estéreis.
Ao contrário do ajudante de guarda-livros, mais feliz
portanto, o desejo invade-me para logo me abandonar
e o “amor”, enfim, não tem sido mais
do que uma vontade de morte delegada noutro corpo.
 
Que tem isto a ver com o retrós?
Quase nada, nem Lisboa é ainda a mesma.
Sai na paragem certa. O resto podes ler nos jornais.
Non indossavi una casacca di cotone,
portavi invece una camicia nera, boriosa,
e la vecchia linea tranviaria
(che io sono riuscito a vedere)
è stata sostituita da un autobus
che porta in giro persone solitamente innocue.
Ma ora, che fare del Bernardo?
 
Non riuscivo a pensare a ciò a cui penso tanto,
per una pretesa tecnica di soffrire:
i gesti celati dietro al minimo oggetto,
quei tunnel d’angoscia relativi
al formato della penna, alla tipografia,
al commesso al bancone incaricato di vendere o meno
un libro non diverso da tanti altri,
in cui poesie come questa dovranno corrispondere
a un codice a barre che è precisamente quello
e che nei secoli sonnecchierà pressoché unico.
 
I tuoi occhi mi vietavano queste sterili elucubrazioni.
Diversamente dall’aiutante del libraio, più felice
dunque, una smania m’invade che subito mi lascia
e l’”amore”, in fondo, non è stato altro
che una voglia di morire demandata a un altro corpo.
 
Che cos’ha a che vedere questo con quel filo ritorto?
Quasi niente, e neanche Lisbona è ancora la stessa.
Sono sceso alla fermata giusta. Il resto puoi leggerlo
 sui giornali.
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Frida Kahlo
The Bus (1929)
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