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Death is a drummer
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Death is a drummer
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para o Carlos Alberto Machado
Não há nada a fazer: domingos. Espesso, demasiado claro, o silêncio tomba sobre as ruas da cidade - e Junho é um mês difícil, digam o que disserem os ingleses e os poetas promovidos pela cruel certeza de Abril. Junho, ao domingo: no meu bairro fecharam as lojas, as mercearias e os restaurantes. Aberta, no entanto, a agência funerária, mesmo em frente à casa de um poeta amigo. E as tabernas que sobrevivem - calçada dos Mestres n.º 44, rua de Campolide n.º 82 - com seus restos de tristeza, serradura e óleo. Os santos (populares) repousam hoje nos meus ombros terminais. Nenhum trânsito, parcos transeuntes hesitam em poluir a minha solidão retórica. Um fado suspenso, dir-se-ia, o bolor que devagar se forma em volta de um manjerico falso. Na porta da oficina de automóveis uma cruz de cinza fotocopiada justifica o ócio, a urgência de uma farda já sem manchas de óleo (mas antes fumo e gravata). Sim, a morte. Haverá outro assunto? Tão óbvias sempre, e mais próximas, as carícias com que chega ao rosto que estamos a deixar de ter. Sem sinos nem gritos de amor bem temperado, ouve-se na tarde apenas o rumor íntimo e distante de um tambor que nos chama, incessantemente. E os poemas, os poemas todos, lhe obedecem. Para que seja domingo sobre a terra que pesada e fria nos esquece, nos esqueceu já. |
per Carlos Alberto Machado
Non c’è niente da fare: domeniche. Denso, eccessivamente chiaro, il silenzio piomba sulle strade della città - e Giugno è un mese difficile, checché ne dicano gli inglesi e i poeti stimolati dalla crudele certezza d’Aprile. Giugno, di domenica: nel mio quartiere hanno chiuso i negozi, i magazzini e i ristoranti. Aperta, però, l’agenzia funebre, proprio di fronte alla casa di un poeta amico. E le taverne che sopravvivono - calçada dos Mestres n.º 44, rua de Campolide n.º 82 - con i loro residui di tristezza, segatura e olio. I santi (popolari) oggi riposano sulla punta delle mie spalle. Non c’è traffico, pochi passanti esitano a profanare la mia solitudine retorica. Un destino interrotto, si direbbe, quella muffa che lenta si forma intorno a un falso basilico. Sulla porta dell’officina automobilistica una croce grigiastra fotocopiata giustifica l’ozio, l’urgenza di una tuta senza macchie d’olio (serve piuttosto tabacco e cravatta). Sì, la morte. Ci sarà un altro argomento? Sempre così ovvie, e più vicine, le carezze per chi sta assumendo l’aspetto che presto smetteremo d’avere. Senza campane né grida d’amore ben temperato, a sera si sente soltanto il suono intimo e distante d’un tamburo che ci chiama, senza pausa. E le poesie, tutte le poesie, gli ubbidiscono. Affinché sia domenica sopra la terra che uggiosa e fredda ci dimentica, ci ha già dimenticati. |
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Beato Angelico Angelo con tamburello (1433) |
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