Supermercado


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Manuel de Freitas »»
 
Telhados de Vidro N.º 10 (2008) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Supermercado
Supermercato


  para a Ana Paula Inácio

Tenho 35 anos e sei finalmente o que
quero. Basta olhar para o cesto
de compras: bolachas Leibniz, papel
higiénico Renova, leite com chocolate
Agros e, claro, uma garrafa de Famous
Grouse e pelo menos seis latas de Super Bock.
Discos já tenho que cheguem, por muito
que me desminta, e não viverei o suficiente
para ler todos os livros que me ocuparam a casa.

É um bocadinho banal, eu sei, mas é a minha
prestação diária enquanto consumidor, o meu fado
simples, enxuto, quase isento de lágrimas & remorsos.
Acordo para almoçar no Doce Lindo (ou Doce Belo, ainda
não houve rotina que me fizesse decorar o nome),
passo pelo supermercado, onde desejo ou nem por isso
todas as ternas e voláteis isildas deste mundo perfeito
– e volto a subir devagar as escadas de madeira rombas.

Só muitas horas depois, quando as luzes
me garantem que o bairro inteiro dorme,
escrevo poemas como este, versos em que
inutilmente vos digo que sou um homem feliz,
un roseau pensant, o mais belo cadáver de Lisboa.
  per Ana Paula Inácio

Ho 35 anni e finalmente so quel che
voglio. Basta dare un’occhiata al cestello
della spesa: biscotti Leibniz, carta
igienica Renova, latte con cioccolato
Agros e, chiaro, una bottiglia di Famous
Grouse e almeno sei lattine di Super Bock.
Dischi ne ho già quanto basta, non importa
che poi non lo ammetta, e non vivrò a sufficienza
per leggere tutti i libri che m’hanno occupato la casa.

È un pochettino banale, lo so, ma è la mia
quotidiana prestazione da consumatore, il mio fato
semplice, conciso, quasi esente da lacrime & rimorsi.
Mi concedo di pranzare al Doce Lindo (o Doce Belo, ancora
non mi sono abituato a impararne il nome a memoria),
passo dal supermercato, dove desidero oppure no
tutte le dolci e volubili isilde di questo mondo perfetto
– e torno lentamente a salire le scale di legno smussato.

Soltanto molte ore dopo, quando le luci
mi confermano che tutto il quartiere dorme,
scrivo poesie come questa, versi in cui
inutilmente vi dico che sono un uomo felice,
un giunco pensante, il più bel cadavere di Lisbona.
________________

Andy Warhol
Campbell's Soups (edition II, 1969)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (105) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (15) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)