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Fado menor
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Fado menor
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Habituou-se a caminhar
sob os plátanos, diluindo ressacas e lembranças imperfeitas. Pouco teriam em comum. Foi num bar, o primeiro encontro, em lados diferentes mas não opostos do balcão. Ela vestia o mais ardente vermelho que já vira, sob um cinzento agreste que o frio de Janeiro quase desculpou. Não dormiram logo juntos. Mas ficou a dever-lhe um rasto de esperma feliz, na cama em que morria só. Ao seu lado, Berkeley, Wittgenstein, Espinosa, páginas de um curso que não queria e que nem ao menos lhe sujava as noites. Semanas depois, passeavam de mãos dadas pelo jardim ou pelas ruas mais próximas do bar. Até ao dia em que deixou de vê-la. Coração em brasa, cinza por todo o lado – um vermelho assim não tem regresso. |
S’era abituato a camminare
sotto i platani, smaltendo sbornie e nebulosi ricordi. Avevano poco in comune. Fu in un bar il loro primo incontro, seduti al bancone su lati differenti, ma non opposti. Lei indossava il più infuocato rosso che lui avesse mai visto, sotto un cielo d’un grigio stridente che il freddo di gennaio quasi giustificò. Non dormirono subito insieme. Ma fu grazie a lei che rimase una traccia di sperma felice nel letto in cui si dava la morte da solo. Accanto a lui, Berkeley, Wittgenstein, Spinoza, pagine di un corso che non gli garbava ma che almeno non gl’imbrattava le notti. Dopo qualche settimana, mano nella mano passeggiavano nel parco o per le vie più vicine al bar. Finché un giorno lei smise di venire. Cuore in fiamme, ceneri ovunque – per un rosso così non c’è ritorno. |
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Anthony Barrow Donna in rosso (2011) |
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