A Empregada e o Poeta


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Conceição Evaristo »»
 
Poemas da Recordação e Outros Movimentos (2017) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


A Empregada e o Poeta
La Cameriera e il Poeta


Na suspeição de que a empregada envenenaria o poeta
anteciparam as dores dos livros.
Folhas mortas despencariam dos troncos,
lombadas folheadas em ouro,
tesouro do poeta,
que a mesma serviçal
eficiente e justa cuidava em sua obra.

A empregada envenenaria o poeta,
um mofo podre avolumaria
De cada letra morta.
E a biblioteca manuseada
pela mente assassina
esperaria uma nova edição
de um debochado cordel,
que cantaria a história do poeta
e do bife envenenado,
trazendo o verso final:
“ o peixe morre é pela boca.”

Todos suspeitariam,
condolências antecipadas
surgiriam em prosa e verso.
Entretanto suspeição alguma
ouviu e leu a história da empregada.
Ela jamais assassinaria o poeta.

Quando o bife passou
quase amargo e cru,
foi porque o tempo logrou
as tarefas de Raimunda.
O não e o mal feito da empregada
eram gastos às escondidas em leituras
do tesouro que não lhe pertencia.
No entanto ela sabia, mesmo antes do poeta,
que rima era só rima.
E em meio às lacrimejantes cebolas
misturadas às dores apimentadas
nos olhos do mundo,
Raimunda entre vassouras, rodos,
panelas e pó desinventava de si
as dores inventadas pelo poeta.
Sospettando che la cameriera avvelenasse il poeta
si anticiparono i dolori dei libri.
Libri come foglie morte staccate dai rami,
coste decorate in foglia d’oro,
tesoro del poeta,
di cui quella stessa servetta
efficiente e onesta s’occupava nel suo lavoro.

La cameriera avrebbe avvelenato il poeta,
una putrida muffa si sarebbe sviluppata
in ciascuna delle lettere morte.
E la biblioteca manipolata
dalla mente assassina
dovrà attendere una nuova edizione
d'un depravato cordel,
che canterà la storia del poeta
e della bistecca avvelenata,
avendo come verso finale:
“il pesce muore dalla bocca.”

Tutti sospetterebbero,
condoglianze anticipate
sboccerebbero in versi e in prosa.
Invece nessun sospetto
udì e lesse nella sua storia la cameriera.
Ella non avrebbe mai assassinato il poeta.

Se la bistecca risultò
piuttosto amara e cruda,
fu perché troppo tempo dedicò
ai suoi lavori Raimunda.
Il non fatto e il mal fatto della cameriera
erano il frutto delle letture fatte di soppiatto
di quel tesoro che non le apparteneva.
Però ella sapeva, ancor meglio del poeta,
che rima è solo rima.
E in mezzo alle lacrimevoli cipolle
mischiate ai dolori infusi
negli occhi del mondo,
Raimunda fra scope, spatole,
padelle e polvere disinventava da sé
i dolori inventati dal poeta.
________________

Armando Vianna
Lucidando l'argenteria (1923)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)