A alegria dos pés na terra molhada


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Casimiro de Brito »»
 
Animal Volátil (2002) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


A alegria dos pés na terra molhada
La gioia dei piedi sulla terra bagnata


Quando as palavras se deixam possuir
como se fossem raízes e ossos leves que trepam
à montanha
ouço a infância, o som do berlinde, a flauta
do anjo anunciador da chuva
e a formiga da mãe a enxotar-me
para a escola onde aprendi
a ler no quadro da janela
as metamorfoses do céu. A poesia escreve-se
copiando os mestres, imitando mal
as fontes naturais: as patas
da água
descendo pela serra; a melopeia silenciosa
do azeite; a boca do vento
nas telhas da velha casa 
do monte; a chama interior
dos cavalos
e dos cães da família: de manhã
pela mão do avô
eu partia de visita às árvores
e aos pássaros — esta é uma cerejeira, aquela,
a dona nogueira, olha
um picanço! a que parece muito cansada
é a figueira, Vamos comer um? O avô
pegava nele como se fosse um animalzinho
acabado de nascer, um pássaro com pétalas e já morto
na boca sedenta e logo
saciada. Um figo é uma
dádiva do sol e da terra e da nossa
humilde fome, e tudo são figos, ah não comas,
não comas nunca nada
sem fome. Ouço —
aprendi nesses dias a ouvir
o melhor da infância: água
na língua
quando a morte é gémea e se
aproxima.
Quando le parole si lasciano possedere
come se fossero radici e ossa leggere che salgono
la montagna
risento l’infanzia, il suono delle bilie, il flauto
dell’angelo che annuncia la pioggia
e la mia mamma solerte che mi sprona
ad andare a scuola dove ho imparato
a leggere nel riquadro della finestra
le metamorfosi del cielo. La poesia si scrive
copiando i maestri, imitando male
le fonti naturali: le zampe
dell’acqua
che scendono i declivi; la melopea silenziosa
dell’olio; la bocca del vento
sulle tegole della vecchia casa 
di montagna; la fiamma interiore
dei cavalli
e dei cani di famiglia: al mattino,
tenuto per mano dal nonno,
io andavo in visita agli alberi
e agli uccelli — questo è un ciliegio, quello
un signor noce, guarda
un’averla! quello che sembra molto stanco
è un albero di fico. Andiamo a mangiarne uno? Il nonno
lo coglieva come se fosse un animaletto
appena nato, un uccello coi petali e subito morto
nella bocca assetata e presto
sazia. Un fico è un
dono del sole e della terra e della nostra
umile fame, e ogni cosa è un fico, ah non mangiare,
non mangiare mai nulla
senza fame. Risento —
ho imparato in questi giorni a sentire
il meglio dell’infanzia: acqua
sulla lingua
quando la morte è gemella e si
avvicina.
________________

Berthe Morisot
Eugene Manet con la figlia in giardino (1883)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (30) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (482) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)