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A Mulher dos crisântemos
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Donna con crisantemi
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sobre um quadro de Degas
As flores transbordam do seu vaso à mesa, um pouco à esquerda da tela cujas beiras por pouco não ultrapassam, invadindo a moldura. Também o seu colorido quase abandona a paleta da pintura (é que o jovem mestre ostenta sprezzatura), mas apenas quase. O olhar passa por elas, pousa aqui, pousa ali, hesitante abelha, visita, à esquerda do vaso, um jarro d´água, nota um lenço largado sobre a toalha bordada da mesa e ruma ao lado oposto da tela, para uma mulher cujos olhos ignoram-no, atraídos talvez por algo que se acha fora não somente do quadro em que ela se encontra, mas também daquele em que nos perceberia, se quisesse. Sem saber por que, o olhar não mais a quer largar. Diga-se a verdade: essa mulher deixa a desejar. Ela não se compara aos crisântemos que lhe deram a fama a que mal faz jus, já que se encontra à margem do quadro, e nem sequer inteira, só em parte. Se é que ela sorri, sorri com um sorriso em parte encoberto, duvidoso e esquivo. Dela está bem mais presente ali a ausência que a presença. E, dado que a ausência é proteica e tudo nada, o olhar mal mergulha em sua vertiginosa superfície e flutua de volta às flores sobre o fundo castanho do papel de parede; depois, da capo. |
sopra un quadro di Degas
I fiori traboccano dal loro vaso sul tavolo, un po’ sulla sinistra della tela, i cui margini per poco non oltrepassano, sconfinando sulla cornice. Anche la loro coloritura quasi abbandona la tavolozza dei colori (è che il giovane maestro ostenta sprezzatura), ma solamente quasi. Lo sguardo scorre su di loro, si posa qui, si posa lì, ape indecisa, visita, a sinistra del vaso, una brocca d’acqua, nota un fazzoletto steso sopra la tovaglia ricamata del tavolo e si dirige al lato opposto della tela, verso una donna i cui occhi li ignorano, attratti forse da qualcosa che non soltanto sta fuori dal quadro in cui lei si trova, ma anche dal punto in cui ci scorgerebbe, se volesse. Senza sapere il perché, lo sguardo non la vuole più lasciare. Diciamoci la verità: questa donna lascia a desiderare. Ella non è paragonabile ai crisantemi che le han dato la fama che a stento si merita, giacché si trova la limite del quadro, e neppure intera, soltanto in parte. Se sta sorridendo, sorride con un sorriso in parte coperto, dubbioso e schivo. Di lei lì è assai più presente l’assenza che la presenza. E, dato che l’assenza è multiforme e impalpabile, lo sguardo indugia appena sulla sua vertiginosa superficie e fluttua tornando indietro ai fiori sul fondo castano della carta da parati; e poi, da capo. |
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Edgar Degas Donna con crisantemi (1865) |
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