O espelho do tempo


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Ronaldo Costa Fernandes »»
 
A invenção do passado (2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


O espelho do tempo
Lo specchio del tempo


No espelho, tudo cabe
e nada se fixa ou nele habita.
Os espelhos são malditos
porque estão cheios de fantasmas.
Fantasmas que vagaram
algum dia pelo reflexo fugidio.
O espelho inveja a foto
que tudo retém e imobiliza.
Por sua vez a foto
se ressente de variedade e vazio.
E reclama da fixidez
que deu eternidade
ao que é fluxo contínuo.
A foto é um espelho que se fixou,
o efêmero flash
que se fez memória.
A memória tem mais
de espelho que de foto,
embora as gentes queiram ver
nesses a fixação das águas do rio
como se fosse possível
um homem banhar-se
duas vezes no mesmo rio.
A memória é uma foto
que se mexe e se transforma
conforme se vê aquele
que olha para a câmera.

A câmera da memória
é volúvel, tem vários rostos,
e se movimenta como alguém
que faz caretas no tempo
diante do espelho, ou aparece,
se dilui, retorna mais velho,
e, por fim, não surge mais
sobre a superfície de vidro
como uma memória
ou espelho em que ninguém se mira.
Nello specchio, tutto entra
e nulla vi si fissa o vi abita.
Gli specchi sono maledetti
perché sono pieni di fantasmi.
Fantasmi che vagarono
un giorno nel loro riflesso fugace.
Lo specchio invidia la foto
che tutto trattiene e immobilizza.
A sua volta la foto
s’impermalisce per la varietà e il vuoto.
E rivendica la fissità
che ha reso eterno
ciò che è flusso continuo.
La foto è uno specchio che s’è fissato,
l’effimero flash
che s’è fatto memoria.
La memoria somiglia più
allo specchio che alle foto,
benché le persone vogliano vedere
in esse l’immobilità delle acque del fiume
come se fosse possibile
che un uomo si bagnasse
due volte nello stesso fiume.
La memoria è una foto
che si muove e si trasforma
in base a come si vede colui
che guarda verso l’obiettivo.

La camera della memoria
è volubile, ha volti diversi,
e si muove come qualcuno
che fa moine al tempo
davanti allo specchio, o appare,
si dissolve, diventa più vecchio,
e, infine, non compare più
sulla superficie del vetro
come una memoria
o uno specchio in cui nessuno si guarda.
________________

Michelangelo Pistoletto
Cane allo specchio (1971)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (107) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (23) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)