31 de Dezembro


Nome :
 
Collezione :
Fonte :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (dicembre 2020) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


31 de Dezembro
31 dicembre


A areia chega-me agora à cintura,
Não me tolhe, nem condena,
Mas está lá, sinto-a.
Há vozes com sede que se abeiram,
Querem beber, mas só tenho sede igual
Para lhes oferecer, ou areia.
A areia é quente, leve, maternal –
Não aquela que os humores vários do vento
Aqui vão depositando, mas o favo
Das que me cobrem há muito.
Às vezes, parece que nas areias
Se anima um instinto de construção,
Mas de que, grão por grão, logo desistem
E aquietam-se
Na arquitectura de apenas
Estarem junto às outras
E aquecem, ao desalento de irmandade
São mais fortes as vozes
Que querem beber, as areias
Que pedem água, jurando
Que a feitiçaria de uma só gota faria em terra,
São mais fortes as vozes, como as areias,
E lamentam-se da construção que não foram,
Coisas por fazer protestando,
Julgando-se incluídas no útero de algum futuro.

La sabbia ora m’arriva alla vita,
Non m’intralcia né mi danneggia,
Ma è là, io la sento.
Ci sono voci assetate che s’avvicinano,
Vogliono bere, ma non ho altro da offrire
Se non la stessa sete oppure sabbia.
La sabbia è calda, materna, leggera –
Non quella che gli umori volubili del vento
Depositano qui, ma la dolcezza
Di quelle che mi coprono da tanto.
Talvolta, pare che nelle sabbie
Si ravvivi un istinto di costruzione,
Al quale però, granello per granello, presto
Si sottraggono e s’acquietano
In quell’architettura dello starsene
Semplicemente insieme le une alle altre
E si riscaldano, in un fraterno abbandono
Sono più forti le voci
Che chiedono da bere, le sabbie
Che invocano acqua, giurando
Sull’incantesimo che una sola goccia farebbe sulla terra,
Sono più forti le voci, come le sabbie,
E si lamentano di quella costruzione non terminata,
Cose da fare protestando,
Immaginandosi incluse nell’utero d’un qualche futuro.

________________

Claude Monet
Bassa marea a Varengeville (1882)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (20) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (429) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (21) Poemas Sociais (30) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)