Ruína


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Manoel de Barros »»
 
Ensaios fotográficos (2000) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Ruína
Rovina


Um monge descabelado me disse no caminho:
"Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução.

Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera.
Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam.
Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte,
mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo.
O abandono pode ser também de uma expressão
que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra.
Uma palavra que esteja sem ninguém dentro.

(O olho do monge estava perto de ser um canto.)

Continuou: digamos a palavra AMOR.
A palavra amor está quase vazia.
Não tem gente dentro dela.
Queria construir uma ruína para a palavra amor.
Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”.
E o monge se calou descabelado.

Un monaco scarmigliato mi disse strada facendo:
"Io vorrei costruire una rovina. Pur sapendo che una rovina è una distruzione.

Il mio proposito sarebbe di fare qualcosa di simile a un rudere.
Qualcosa che servisse a preservare l’abbandono, come lo preservano i ruderi.
Perché l’abbandono può essere non soltanto quello d’un uomo sotto il ponte,
ma può anche essere quello d’un gatto nel vicolo o di un bambino rinchiuso in uno sgabuzzino.
L’abbandono può anche essere quello di un’espressione
che sia diventata arcaica o anche di una parola.
Una parola rimasta senza aver niente dentro.

(Lo sguardo del monaco era quasi un canto.)

Continuò: prendiamo la parola AMORE.
La parola amore è quasi vuota.
Dentro non c’è nessuno.
Vorrei costruire una rovina per la parola amore.
Magari rinascerebbe dalle rovine, come il giglio può nascere da un letamaio”.
E il monaco, scarmigliato, s’azzittì.

________________

Bernardo Bellotto, detto il Canaletto
Le rovine della vecchia Kreuzkirche a Dresda (1765)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (8) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)