Ruína


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Ruína
Rovina


Um monge descabelado me disse no caminho:
"Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução.

Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera.
Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam.
Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte,
mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo.
O abandono pode ser também de uma expressão
que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra.
Uma palavra que esteja sem ninguém dentro.

(O olho do monge estava perto de ser um canto.)

Continuou: digamos a palavra AMOR.
A palavra amor está quase vazia.
Não tem gente dentro dela.
Queria construir uma ruína para a palavra amor.
Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”.
E o monge se calou descabelado.

Un monaco scarmigliato mi disse strada facendo:
"Io vorrei costruire una rovina. Pur sapendo che una rovina è una distruzione.

Il mio proposito sarebbe di fare qualcosa di simile a un rudere.
Qualcosa che servisse a preservare l’abbandono, come lo preservano i ruderi.
Perché l’abbandono può essere non soltanto quello d’un uomo sotto il ponte,
ma può anche essere quello d’un gatto nel vicolo o di un bambino rinchiuso in uno sgabuzzino.
L’abbandono può anche essere quello di un’espressione
che sia diventata arcaica o anche di una parola.
Una parola rimasta senza aver niente dentro.

(Lo sguardo del monaco era quasi un canto.)

Continuò: prendiamo la parola AMORE.
La parola amore è quasi vuota.
Dentro non c’è nessuno.
Vorrei costruire una rovina per la parola amore.
Magari rinascerebbe dalle rovine, come il giglio può nascere da un letamaio”.
E il monaco, scarmigliato, s’azzittì.

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Bernardo Bellotto, detto il Canaletto
Le rovine della vecchia Kreuzkirche a Dresda (1765)
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