Lugares da Infância


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Um Sítio Onde Pousar A Cabeça (1991) »»
 
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Lugares da Infância
Luoghi dell’infanzia


Lugares da infância onde
sem palavras e sem memória
alguém, talvez eu, brincou
já lá não estão nem lá estou.

Onde? Diante
de que mistério
em que, como num espelho hesitante,
o meu rosto, outro rosto, se reflecte?

Venderam a casa, as flores
do jardim, se lhes toco, põem-se hirtas
e geladas, e sob os meus passos
desfazem-se imateriais as rosas e as recordações.

O quarto eu não o via
porque era ele os meus olhos;
e eu não o sabia
e essa era a sabedoria.

Agora sei estas coisas
de um modo que não me pertence,
como se as tivesse roubado.

A casa já não cresce
à volta da sala,
puseram a mesa para quatro
e o coração só para três.

Falta alguém, não sei quem,
foi cortar o cabelo e só voltou
oito dias depois,
já o jantar tinha arrefecido.

E fico de novo sozinho,
na cama vazia, no quarto vazio.
Lá fora é de noite, ladram os cães;
e eu cubro a cabeça com os lençóis.

Luoghi dell’infanzia dove
senza parole e senza memoria
qualcuno, forse io, ha giocato
non sono più là né là sono io.

Dove? Davanti
a che mistero
in cui, come in uno specchio esitante,
il mio volto, un altro volto, si riflette?

Hanno venduto la casa, i fiori
del giardino, se li sfioro, si drizzano ispidi
e gelati, e sotto i miei passi
si disfano immateriali le rose e i ricordi.

Io non vedevo la stanza
perché essa era i miei occhi;
e io non lo sapevo
ed era questa la saggezza.

Adesso so queste cose
in un modo che non m’appartiene,
come se le avessi rubate.

La casa ormai non cresce più
intorno alla sala,
la tavola è apparecchiata per quattro
ma il cuore solo per tre.

Manca qualcuno, non so chi,
è andato a farsi tagliare i capelli
ed è tornato otto giorni dopo,
ormai s’era raffreddata la cena.

E resto di nuovo solo,
nel letto vuoto, nella stanza vuota.
Là fuori è notte, latrano i cani;
e io ficco la testa sotto le lenzuola.

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Vilhelm Hammershøi
Interno (1890)
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