Autorretrato falado


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Autorretrato falado
Autoritratto parlato


Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da
Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do
chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de
estar entre pedras e lagartos.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me
sinto como que desonrado e fujo para o
Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo
que fui salvo.
Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de
gado. Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só
faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.

Vengo da una Cuiabá di miniere e di viuzze intricate.
Mio papà aveva una rivendita di banane nel Beco da
Marinha, dove son nato.
Crebbi nel Pantanal di Corumbá, tra bestiole
di terra, gente umile, uccelli, alberi e fiumi.
Mi piace vivere in posti dimessi per il gusto di
stare tra pietre e lucertole.
Mi delizia far apprezzare cose considerate spregevoli.
Ho già pubblicato 10 libri di poesia; pubblicarli m’ha fatto
sentire un po’ disonorato e son scappato nel
Pantanal dove ho la benedizione degli aironi.
Per tutta la vita mi sono cercato senza trovarmi — è perciò
che fui salvo.
Ho scoperto che tutte le strade portano all’ignoranza.
Non son finito nelle fogne perché ho ereditato una fattoria col
bestiame. I buoi mi rallegrano.
Adesso sono già sulla via del tramonto!
Sono nella categoria di chi soffre di morale, perché
faccio soltanto cose inutili.
Nel mio morire c’è un dolore d’albero.

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Martha Barros
Do meu quintal (Dal mio cortile) (2014)
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