Meditação do filho da floresta


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Meditação do filho da floresta
Meditazione del figlio della foresta


O que em mim faz falta
— para inteiro me ser —
ficou onde não estive,
dentro do que não tive
antes já de nascer.
 
Estou sempre aquém
do que não sou. Cheguei
escasso de mim, vasilha
de argila inacabada.
Onde estiver, por mais
que eu todo me dê,
sempre incompleto estarei.
No que fizer, deixo
na mesma face do feito
a marca da mão que faz
e a da mão que não se fez.
Levo comigo uma fome
que, sem boca, me come.
 
A fome, contudo,
que mais o consome
é a que ele não tem,
da qual sequer sabe o nome.
Raiz viva e fruto podre
do seu próprio cativeiro,
é a falta dessa fome,
própria só do homem,
de sonhar e enxergar
o centro real do sonho
latejando no chão
que dói sob os pés.
A fome não tem
de comer a diferença
entre o ninguém que é
e o alguém que pode ser.
 
Os dentes do desamparo
mastigaram-lhe a vontade
de ver.
Os donos da servidão
cobriram-lhe os olhos
com escamas de cinza
e taparam-lhe a boca
com as sílabas ocas
da resignação.
 
Quem fala, não sabe
que de sua boca sai
a palavra falaz
dos que o enganam.
Por seu olhar enxerga
uma retina alheia
que o impede a seguir
um rumo de submissão.

Quel che mi fa difetto
— perché io sia completo —
è rimasto dove mai sono stato,
dentro ciò che non ho avuto
neppure prima di nascere.
 
Sto sempre al di sotto di quello
che non sono. Sono arrivato,
carente di me, recipiente
d'argilla incompiuto.
Ovunque io sia, pur
donandomi totalmente,
sempre sarò incompleto.
In quel che faccio, lascio
sulla stessa superficie del fatto
l’impronta della mano che fa
e della mano che da sé non s’è fatta.
Mi tormenta sempre una fame
che, pur senza bocca, mi consuma.
 
Ciononostante, la fame
che lo divora maggiormente
è quella ch’egli non ha,
neanche ne sa il nome.
Radice viva e frutto marcio
della sua stessa servitù,
è l’incapacità di questa fame,
tipica solo dell’uomo,
di sognare e percepire
il nucleo reale del sogno
pulsante sul terreno
che duole sotto i piedi.
La fame non riesce
a consumare la differenza
tra l’essere nessuno
e un possibile qualcuno.
 
I denti dell'afflizione
hanno masticato la sua voglia
di vedere.
I padroni della servitù
hanno coperto i suoi occhi
con scaglie di cenere
e tappato la sua bocca
con le sillabe vuote
della rassegnazione.
 
Chi parla, non sa
che dalla sua bocca esce
la parola mendace
di quelli che lo ingannano.
Coi suoi occhi scruta
una retina estranea
che gl’impedisce di seguire
un cammino di sottomissione.

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Jaider Esbell
Makuxi (2020)
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