A Vida verdadeira


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Thiago de Mello »»
 
Faz escuro mas eu canto (1965) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


A Vida verdadeira
La vita vera


Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.

Vida que não guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor.

Ainda que o gesto me doa,
não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.

Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.

Vem da terra dos barrancos
o jeito doce e violento
da minha vida: esse gosto
da água negra transparente.

A vida vai no meu peito,
mas é quem vai me levando:
tição ardente velando,
girassol na escuridão.

Carrego um grito que cresce
Cada vez mais na garganta,
cravando seu travo triste
na verdade do meu canto.

Canto molhado e barrento
de menino do Amazonas
que viu a vida crescer
nos centros da terra firme.
Que sabe a vinda da chuva
pelo estremecer dos verdes
e sabe ler os recados
que chegam na asa do vento.
Mas sabe também o tempo
da febre e o gosto da fome.

Nas águas da minha infância
perdi o medo entre os rebojos.
Por isso avanço cantando

Estou no centro do rio
estou no meio da praça.
Piso firme no meu chão
sei que estou no meu lugar,
como a panela no fogo
e a estrela na escuridão.

O que passou não conta?, indagarão
as bocas desprovidas.
Não deixa de valer nunca,
que passou ensina
com sua garra e seu mel.

Por isso é que agora vou assim
no meu caminho. Publicamente andando
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos que vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.

Aqui tenho a minha vida:
feita à imagem do menino
que continua varando
os campos gerais
e que reparte o seu canto
como o seu avô
repartia o cacau
e fazia da colheita
uma ilha do bom socorro.

Feita à imagem do menino
mas a semelhança do homem:
com tudo que ele tem de primavera
de valente esperança e rebeldia.

Vida, casa encantada,
onde eu moro e mora em mim,
te quero assim verdadeira
cheirando a manga e jasmim.
Que me sejas deslumbrada
como ternura de moça
rolando sobre o capim.

Vida, toalha limpa
vida posta na mesa,
vida brasa vigilante
vida pedra e espuma
alçapão de amapolas,
sol dentro do mar,
estrume e rosa do amor:
a vida.

Há que merecê-la.

Eccola, qui sta la mia vita.
Pronta per essere usata.

Vita che non si risparmia
né si defila, spaurita.
Vita sempre al servizio
della vita.
Per servire a ciò che vale
la pena e il prezzo dell’amore.

Seppur mi duole il gesto,
non nascondo la mano: avanzo
portando un ramoscello di sole.

Anche se impolverata,
nel cuor della notte gelata,
la vita che mi porto appresso
é fuoco:
è sempre infervorata.

Vengono dalla terra dei dirupi
i modi dolci e violenti
della mia vita: questa passione
per l’acqua scura trasparente.

La vita scorre nel mio petto,
ma è lei che mi porta avanti:
tizzone ardente circospetto,
girasole nell’oscurità.

In me c’è un grido che cresce
sempre più forte nella gola,
fondendo il suo triste fiele
alla verità del mio canto.

Canto bagnato e melmoso
di bambino amazzonico
che ha visto crescer la vita
nei centri della terraferma.
Che sa dell’arrivo della pioggia
dal tremolare del verde
e sa leggere i segnali
che giungono sulle ali del vento.
Ma conosce anche il tempo
della febbre e il gusto della fame.

Nelle acque della mia infanzia
tra i gorghi ho perso la paura.
Perciò io avanzo cantando.

Posso stare in mezzo al fiume
o stare in mezzo alla piazza.
Nella mia terra cammino sicuro
so di stare al posto giusto,
come una pentola sul fuoco
e come una stella nel buio.

Allora il passato non conta?, chiederanno
bocche inesperte?
Non perde mai il suo valore,
quel che è passato ci insegna
col suo artiglio e col suo miele.

È perciò che ora avanzo così
per la mia strada. Cammino pubblicamente.
No, non percorro strade nuove.
Quel che c’è di nuovo
è il modo di camminare.
Ho imparato
(me l’ha insegnato la strada)
a camminare cantando
come conviene
a me
e a quelli che m’accompagnano.
Perché più non cammino da solo.

Qui io tengo la mia vita:
fatta ad immagine del bambino
che insiste nell’attraversare
i Campos Gerais
e che distribuisce i suoi versi
proprio come suo nonno
distribuiva il cacao
e faceva del raccolto
una fonte di mutuo soccorso.

Vita fatta ad immagine del bambino
ma a somiglianza dell’uomo:
con tutto ciò che gli viene dalla primavera
dalla vigorosa speranza e dalla tenacia.

Vita, casa incantata,
ove io vivo e che vivi in me,
ti amo così autentica e sincera
col profumo di mango e gelsomino.
Vorrei che con me tu fossi delicata
come la dolcezza d’una fanciulla
che s’abbandona sul prato.

Vita, tovaglia candida
vita stesa sul tavolo,
vita brace guardinga
vita pietra e spuma
trappola di papaveri,
sole dentro il mare,
sterco e rosa d’amore:
la vita.

Va meritata.

________________

Cândido Portinari
Café (1940)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (7) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)