A fruta aberta


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A fruta aberta
Il frutto aperto


Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.

Agora sei as coisa como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.

Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com  tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.

Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.

Adesso so chi sono.
Sono poca cosa, ma so molto,
perché so di quell’immenso potere
che con me conviveva,
ma dormiente come un gran pesce
sul fondo scuro e silente del fiume,
e che oggi è come un albero
piantato in alto nel mezzo della mia vita.

Adesso so come stanno le cose.
So perché l’acqua scorre serena
e perché è melodia il suo mormorio
nella notte stellata
che viene a stendersi sopra la casa nuova.
Ora so quali sono le cose poderose
che hanno valore dentro un uomo.

L’ho imparato da te, amor mio.
L’ho imparato dalla tua bellezza,
dalla morbida bellezza delle tue mani,
quelle tue lunghe dita, petali d’argento,
l’oceanica tenerezza del tuo sguardo
di tutti i toni del verde
e senza alcun orizzonte;
dalla tua pelle fresca e lunare,
dalla tua infanzia permanente,
dalla tua saggezza affabulatoria
che distratta risplende sul tuo volto.

Grandi semplici cose ho appreso da te,
dalla tua affinità coi miti più terrestri,
con le spighe dorate nel vento,
con le piogge estive
e con le linee della mia mano.
Da te ho imparato
che l’amore spartisce
ma soprattutto cresce,
ed ogni istante un po’ di più imparo
da quel tuo modo di camminare per la città
come se passeggiassi tenendo l’aria per mano,
da quel tuo sapore d’erba umida,
dalla luminosità dei tuoi denti,
le tue delicatezze segrete,
l’allegria del tuo amore stupito,
e dalla tua voce radiosa
che dalla bocca ti sgorga
improvvisa come un arcobaleno
che parte dal centro e unisce gli estremi della vita,
e che esibisce la verità
come un frutto aperto.

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Emiliano di Cavalcanti
Natura morta con frutta (1954)
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