O sonho da argila


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O sonho da argila
Il sogno dell’argilla


O vocábulo puro, em que me amparo,
esquiva-se a meu jugo; e raro canto.
Que a palavra da boca é sempre inútil
se o sopro não lhe vem do coração.

Mudo, contemplo os valerosos feitos
de quem funda caminhos sobre os mares
e edifica cidades e ergue torres
de cujo topo logre dominar
o mundo inteiro — e ver que o mundo é pouco.

Antes os que, cegos, trabalham a terra,
sorvendo-lhe os tesouros mais esconsos,
sem assombro, no convívio dos bois,
com eles aprendendo ser humildes,
e dormem, vinda a noite, sossegados,
— permaneço calado, e todavia
algo em mim lhes inveja esse dormir.

Não me pranteio por saber-me turvo
ou por não me caber a paz dos brutos.
Sei que morro amanhã, mas não me louvo
a sóbria face que disfarça o medo.

Move-me ao canto ver que a sombra cresce
dentro de mim, enquanto um sol avaro
esplende oculto — em céus só vislumbrados
quando a argila, grotesca e ousada, sonha.
E ver o inútil dessa argila em sonho,
mais que mover-me ao canto, me comove.

Il vocabolo puro a cui m’aggrappo
sfugge al mio potere; e lo canto di rado.
Ché è sempre inutile la parola della bocca
se l’afflato non le proviene dal cuore.

Muto, contemplo le valorose gesta
di chi apre nuove vie sopra i mari,
ed edifica città e innalza torri
dalla cui cima riesca a dominare
il mondo intero, per avvedersi ch’è poca cosa.

Dinanzi a quelli che, ciechi, lavorano la terra,
carpendole i tesori più reconditi,
senza ansia, in compagnia dei buoi,
imparando da loro ad esser umili,
e, scesa la notte, sereni s’addormentano,
— io resto in silenzio, e tuttavia
qualcosa in me invidia il loro sonno.

Non mi compiango per sapermi inquieto
o per non accettare la pace dei bruti.
So che domani morirò, ma non elogio
il mio volto che dissimula la paura.

M’induce al canto vedere che l’ombra cresce
dentro di me, mentre un sole avaro
splende occulto — in cieli visti di sfuggita
mentre l’argilla, assurda e audace, sogna.
E vedere l’inanità di quest’argilla sognante
più che indurmi al canto, mi commuove.

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Nancy Lorenz
Sunlight (2019)
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