Narciso cego


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Narciso cego
Narciso cieco


Tudo o que de mim se perde
acrescenta-se ao que sou.
Contudo, me desconheço.
Pelas minhas cercanias
passeio - não me freqüento.
 
Por sobre fonte erma e esquiva
flutua-me íntegra, a face.
Mas nunca me vejo: e sigo
com face mal disfarçada.
Oh que amargo é o não poder
rosto a rosto contemplar
aquilo que ignoto sou;
distinguir até que ponto
sou eu mesmo que me levo
ou se um nume irrevelável
que (para ser) vem morar
comigo, dentro de mim,
mas me abandona se rolo
pelos declives do mundo.
 
Desfaço-me do que sonho:
faço-me sonho de alguém
oculto. Talvez um Deus
sonhe comigo, cobice
o que eu guardo e nunca usei.
 
Cego assim, não me decifro.
E o imaginar-me sonhado
não me completa: a ganância
de ser-me inteiro prossegue.
E pairo - pânico mudo -
entre o sonho e o sonhador.

Tutto ciò che di me va perduto
va a sommarsi a ciò che sono.
Io però non mi riconosco.
Nei miei paraggi
passeggio - ma non mi frequento.
 
Sopra la fonte erma e riposta
il mio volto fluttua, intero.
Ma non mi vedo: e rimango
con il volto semiocculto.
Oh com’è amaro non potere
faccia a faccia contemplare
la parte ignota di me;
distinguere fino a che punto
sono io stesso che mi porto
o se è un nume irrivelabile
che (per esistere) viene a stare
con me, dentro di me,
ma mi abbandona se rotolo
lungo i declivi del mondo.
 
Mi libero del mio sogno
e divento il sogno di qualcuno
nascosto. Forse un Dio
mi sta sognando, brama
ciò che serbo e mai ho usato.
 
Così cieco, non mi decifro.
E immaginarmi sognato
non mi completa: la smania
d’essere intero continua.
E ondeggio - in panico muto -
tra il sogno e il sognatore.

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Scuola di Giovanni Antonio Boltraffio
Narciso (1500 circa)
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