Paisagem pelo telefone


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Paisagem pelo telefone
Paesaggio al telefono


Sempre que no telefone
me falavas, eu diria
que falavas de uma sala
toda de luz invadida,

sala que pelas janelas,
duzentas, se oferecia
a alguma manhã de praia,
mais manhã porque marinha,
 
a alguma manhã de praia
no prumo do meio-dia,
meio-dia mineral
de uma praia nordestina,
 
Nordeste de Pernambuco,
onde as manhãs são mais limpas,
Pernambuco do Recife,
de Piedade, de Olinda,
 
sempre povoado de velas,
brancas, ao sol estendidas,
de jangadas, que são velas
mais brancas porque salinas,
 
que, como muros caiados
possuem luz intestina,
pois não é o sol que as veste
e tampouco as ilumina,
 
mais bem, somente as desveste
de toda sombra ou neblina,
deixando que livres brilhem
os cristais que dentro tinham.
 
Pois, assim, no telefone
tua voz me parecia
como se de tal manhã
estivesse envolvida,
 
fresca e clara, como se
telefonasses despida,
ou, se vestida, somente
de roupa de banho, mínima,
 
e que por mínima, pouco
de tua luz própria tira,
e até mais, quando falavas
no telefone, eu diria
 
que estavas de todo nua,
só de teu banho vestida,
que é quando tu estás mais clara
pois a água nada embacia,
 
sim, como o sol sobre a cal
seis estrofes mais acima,
a água clara não te acende:
libera a luz que já tinhas.
Ogni volta che al telefono
mi parlavi, io avrei detto
che parlavi da una sala
tutta invasa di luce,

sala che per le finestre,
duecento, si apriva
su qualche mattina da spiaggia,
ancor più mattina perché marina,

su qualche mattina da spiaggia
nel picco del mezzogiorno,
mezzogiorno minerale
d’una spiaggia nordestina,

Nordest di Pernambuco,
dove la mattina è più pulita,
Pernambuco di Recife,
di Piedade, di Olinda,

sempre affollata di vele,
bianche, spiegate al sole,
di jangadas, che sono vele
più bianche perché saline,

che, come i muri a calce
emanano una luce interiore,
perché non è il sole che le veste
e neppure dà loro splendore,

piuttosto, soltanto le sveste
di ogni ombra o di bruma,
lasciando che liberi brillino
i cristalli che dentro custodivano.

Ecco, così, al telefono
la tua voce mi giungeva
come se da una tale mattina
tu fossi tutta avviluppata,

fresca e chiara, come se
telefonassi spogliata,
o, se vestita, soltanto
di una tenuta da bagno, minima,

e che essendo minima, poco
della tua luce sottraeva,
e addirittura, quando parlavi
al telefono, avrei detto

che eri completamente nuda,
solo del tuo bagno vestita,
che è quando tu sei più chiara
perché l’acqua non opacizza ,

invece, come quel sole sulla calce
citato sei strofe fa,
l’acqua chiara non ti accende:
libera la luce che tu avevi già.
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Jorge Martins
Eros cromatico (1964)
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