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Aleppo, Calais, Lesbos,
ou, por outras palavras |
Aleppo, Calais, Lesbo,
o, in altre parole |
quero falar do que antes eram ruas, avenidas
bordadas a casas e palmeiras, dos tapetes que outrora, em imaginação nossa, voavam de magia e que agora se esfumam de outras formas, as mais rasas Ou do tempo da poesia antes, quando os barcos entravam, esguios, e a palavra se fazia em nitidez de imagem, da violência depois e deste tempo, porta de entrada em rudes barcas para a violência em séculos agora Ou ainda dos carreiros de gente a parecerem oceanos a lentes de distância, grandes planos, mas que, partida a gente em gente singular, sobra em nomes inteiros, gostos próprios, distintos sofrimentos, músculos de sorrir diferentes todos, ah, se a amplíssima lente se transformasse, estreita, em microscópio de vida Do que vejo de longe e num écran, não consigo falar usando redondilha, versos redondos, uma sintaxe igual e certa quero estas linhas em que falo das outras linhas feitas de outra matéria, real e dura, explodida, essa, detida por coletes e armas cor de fumo, e, ao lado dos oceanos de gente, os sedimentos que vivem noutras gentes, as vizinhas a mim, o ódio construído lentamente a rasar a abominação Do que chega em olhar, das camadas de séculos em que tudo parece mercadoria fácil de esquecer, ou então que o desterro nos ficou raso aos genes e só ele é lembrado, e ele sozinho serve para insistir o horror, de tudo isso não há forma de verso que me chegue porque nada chega de conforto ou paz Mas que o furor persista, e que neste recanto ao canto desta Europa, mesmo sem vergonha de estar quente e longe, e protegida sob uma lente amplíssima que só deixa passar, finíssimas, meia dúzia de imagens: ou, por outras palavras, a cegueira – mesmo sem palavras – o furor |
vorrei parlare di quelle ch’erano in passato strade, viali
orlati di case e palmizi, dei tappeti che allora nella nostra fantasia, volavano per magia e che ora sbiadiscono in altre forme, le più scialbe O dell’epoca che prima era di poesia, quando i navigli entravano, sottili, e la parola assumeva nitidezza d’immagine, poi di violenza e ai giorni nostri, è porta d’entrata su rudi imbarcazioni per la violenza nei secoli attuali O ancora delle fiumane di persone che attraverso lenti ipermetropi sembrano oceani, grandi pianure, ma che, scontornando le persone in singole persone, svelano nomi interi, con gusti propri, sofferenze particolari, muscoli per sorridere ciascuno a suo modo, ah, se quella ampissima lente si tramutasse, stretta, in microscopio della vita Di ciò che vedo da distante e su uno schermo, non riesco a parlare usando delle quartine, versi rotondi, con una sintassi uguale e definita voglio queste righe dove parlo di altre righe, fatte di un’altra materia, dura e concreta, scoppiata, questa, trattenuta da giubbotti e armi color del fumo, e, al lato degli oceani di gente, i detriti che vivono in altre genti, quelle a me prossime, quell’odio costruito lentamente che rasenta l’abominio Di quel che colpisce lo sguardo, degli strati di secoli ove tutto pare mercanzia facile da scordare, o adesso che questo esodo è entrato dentro i nostri geni tenendo da solo viva la memoria e questo contribuisce a insistere sull’orrore, di tutto questo non c’è forma di verso che m’appaghi perché nulla basta a dar conforto o pace Ma che il furore perduri, e in quest’angolo estremo d’Europa, pur senza vergogna di vivere al caldo e distanti, e protetti da una lente vastissima che lascia passare, finissime, mezza dozzina d’immagini: o, in altre parole, la cecità – pur senza parole – il furore |
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Andrea de Angelis Contrasti (dettaglio) (2013) |
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