Abandonos


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Abandonos
Abbandoni


Deixei um livro
num banco de jardim:
um despropósito

Mas não foi por acaso
que lá deixei o livro, embora o sol estivesse quase
a pôr-se, e o mar que não se via do jardim
brilhasse mais

Porque a terra, de facto, era terra interior,
e não havia mar, mas só planície,
e à minha frente: um tempo de sorriso
a desenhar-se em lume,
e o mar que não se via (como dizia atrás)
era um caso tão sério, e ao mesmo tempo
de uma tal leveza, que o livro:
só ideia

Essa sim, por acaso, surgida num comboio
e nem sequer foi minha, mas de alguém
que muito gentilmente ma cedeu,
e criticando os tempos, mais tornados
que ventos, pouco livres

E ela surgiu, gratuita,
pura ideia,
dizendo que estes tempos exigiam assim:
um livro abandonado num banco de jardim

E assim se fez,
entre o comboio cruzando este papel
impróprio para livro,
e o tempo do sorriso

(que aqui, nem de propósito,
existe mesmo, juro, e o lume de que falo mais acima,
o mar que não se vê, nem com mais nada rima,
e o banco de jardim,
onde desejo ter deixado o livro,
mas só se avista no poema, e livre,
horizontal
daqui)
Ho lasciato un libro
sopra una panchina di un giardino:
uno sproposito

Ma non è stato un caso
se ho lasciato là il libro, benché il sole stesse quasi
per tramontare e il mare, che dal giardino non si vedeva,
fosse più brillante

Perché, in realtà, quella era una terra interna,
e il mare non c’era, ma solamente pianura,
e davanti a me c’era un tempo di sorriso
che si delineava a fuoco,
e il mare che non si vedeva (come dicevo prima)
era un caso così serio, e allo stesso tempo
di una tale inconsistenza, che il libro
non era che un’idea

Questa sì, casualmente, spuntata su un treno
e neppure è stata mia, ma di un altro
che molto cortesemente me l’ha ceduta,
lamentandosi dei tempi, più tempeste
che venti, poco liberi

E quella è venuta, gratis,
pura idea,
dicendo che erano i tempi ad esigerlo:
un libro abbandonato sopra una panchina di giardino

Ed è successo così,
tra il treno che attraversava questo foglio
inadatto ad un libro,
e il tempo del sorriso

(che qui, neppure intenzionalmente,
esiste davvero, lo giuro, e il fuoco di cui sopra,
il mare che non si vede, e non fa rima con nient’altro,
e la panchina del giardino,
dove vorrei aver lasciato il libro,
che però è visibile solo nella mia poesia, e libero,
orizzontale
da qui)
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Juan Gris
Natura morta con un libro (1913)
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