Matar é fácil


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Matar é fácil
Ammazzare è facile


Assassinei (tão fácil) com a unha
um pequeno mosquito
que aterrou sem licença e sem brevet
na folha de papel

Era em tom invisível,
asa sem consistência de visão
e fez, morto na folha, um rasto
em quase nada

Mas era um rasto
em resto de magia, pretexto
de poema, e ardendo a sua linfa
por um tempo menor
que o meu tempo de vida,
não deixava de ser
um tempo vivo

Abatido sem lança, nem punhal,
nem substância mortal
(um digno cianeto ou estricnina),
morreu, vítima de unha,
e regressou ao pó:
uma curta farinha triturada

Mas há-de sustentar,
tal como os seus parentes,
qualquer coisa concreta,
será, daqui a menos de anos cem,
de uma substância igual

à que alimenta tíbia de poeta,
o rosto que se amou,
a pasta do papel onde aqui estou,
o mais mínimo ponto imperturbável
de cauda de cometa
Ho assassinato (così facile) con l’unghia
un moscerino minuscolo
atterrato senza permesso né brevetto
sul foglio di carta

Come tonalità, era invisibile,
ala inconsistente alla vista
e, da morto sul foglio, ha lasciato una traccia
un quasi niente

Ma questa traccia,
avanzo di magia, era pretesto
di poesia, e pur ardendo la sua linfa
per un tempo inferiore
a quello della mia vita,
era pur tuttavia
un tempo vivo

Abbattuto senza lancia né pugnale,
né sostanza mortale
(un dignitoso cianuro o della stricnina),
è morto, vittima di un’unghia,
ed è tornato alla polvere:
come una fine farina macinata

Ma finirà con l’esser nutrimento,
proprio come i suoi congiunti,
di qualcosa di concreto,
sarà, entro meno di cent’anni,
d’una sostanza uguale

a quella che nutre il flauto del poeta,
il volto che s’è amato,
la polpa della carta su cui scrivo,
l’infinitesimo punto imperturbabile
della coda d’una cometa
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Vassily Kandinsky
Macchia nera (1912)
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