Comuns formas ovais e de alforria
ou outra (quase) carta a minha filha


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Ana Luísa Amaral »»
 
What’s in a Name (2017) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Comuns formas ovais e de alforria
ou outra (quase) carta a minha filha
Semplici forme ovali e di riscatto
ovvero altra (quasi) lettera a mia figlia


Foi de repente,
eu semi-reflectida por janela oval:
uma emoção que me lembrou o dia
em que disseste inteiro o nome do lugar onde vivíamos
sem lhe trocar as letras de lugar

No céu visto daqui,
desta janela oval e curta de avião,
mais de vinte anos foram
por sobre a linha azul daqueles montes
e esse recorte puro
dos verbos conjugados no presente errado,
mas as palavras certas

Ainda hoje,
não me é fácil falar-te em impiedade,
ou nisso a que chamamos mal,
e que existe, e emerge tantas vezes
da idiotia mais rasa e primitiva

Dizer-te unicamente destas coisas
neste poema a ti
seria como assaltar a própria casa,
queimar móveis e livros,
matar os animais que como nós a habitam,
estuprar a calma que por vezes se instala
na varanda

Deixo-te só
a desordem maior do coração
sentida há pouco dessa janela oval,
os momentos raríssimos,
como só os milagres se diz terem,
e que às vezes cintilam:

cósmicas cartas de alforria que nos podemos dar,
nós, humanos aqui:

Só isto eu desejava para ti
e nesta quase carta –
È accaduto improvvisamente,
io semiriflessa nel finestrino ovale:
un’emozione che mi ha rammentato il giorno
in cui hai detto tutt’intero il nome del posto dove abitavamo
senza cambiar di posto alle sue lettere

Nel cielo visto da qui,
dal finestrino ovale e stretto dell’aereo,
più di vent’anni sono passati
al di sopra della linea blu di quei monti
e questo nitido dettaglio
dei verbi coniugati al presente sbagliato,
ma con le parole esatte

Ancor oggi,
per me non è facile parlarti d’iniquità,
o di ciò che noi chiamiamo male,
eppure esiste ed emerge molte volte
dall’idiozia più vile e primitiva

Dirti solamente queste cose
in questa poesia fatta per te
sarebbe come assaltare la nostra casa,
dar fuoco a mobili e libri,
ammazzare gli animali che come noi vi abitano,
violare la quiete che talvolta s’installa
sulla veranda

Ti lascio solamente
l’estremo scompiglio del cuore
sentito poco fa da questo finestrino ovale,
quegli attimi rarissimi,
quanto, si dice, lo siano i miracoli,
e che certe volte scintillano:

cosmici documenti di riscatto che possiamo darci
noi, umani qui:

È solo questo che mi auguravo per te
in questa quasi lettera –
________________

Raffaele Iannone
Ovale 05 (2014)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (12) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (109) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (467) Pássaro de vidro (52) Pedro Mexia (40) Poemas dos dias (28) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)