Vida e poesia


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Vida e poesia
Vita e poesia


A lua projetava o seu perfil azul
Sobre os velhos arabescos das flores calmas
A pequena varanda era como o ninho futuro
E as ramadas escorriam gotas que não havia.
Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
— Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
Só os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque as corolas eram alegres como frutos
E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

Eu me pus a sonhar o poema da hora.

E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
Talvez ao pressentir na carne misteriosa
A germinação estranha do meu indizível apelo
Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
Que ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
E marulhar entre os teus seios como uma onda
Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
De que me tivesses possuído antes do amor.

La luna proiettava il suo profilo blu
Sopra i vecchi arabeschi dei fiori calmi
La piccola veranda era come il nido futuro
E lungo i rami scorrevano gocce inesistenti.
Nell’umile via gli angeli facevano il girotondo...
— Nessuno lo sapeva, ma noi eravamo lì.
Solo i profumi tessevano i pizzi della tristezza
Perché le corolle erano allegre come frutti
E un’innocente pittura nasceva dal disegno dei colori

Io mi misi a sognare la poesia del momento.

E, forse guardando il mio viso esasperato
Per lo sconforto d’averti solamente come amica
Forse nel presagire nella carne misteriosa
La strana germinazione del mio indicibile richiamo
Sentii d’un tratto la limpidezza della tua risata
In un gorgoglio gorgheggiante d’acqua lunare.
Era una risata così bella, tanto più bella della notte
Tanto più dolce del miele dorato dei tuoi occhi
Che nell’udirla trillare tra i tuoi denti come un cembalo
E scorrere tra le tue labbra come un succo
E dondolare sui tuoi seni come un’onda
Io piansi dolcemente nel palmo delle mie mani vuote
Perché tu m’avevi posseduto prima dell’amore.

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Giovanni Boldini
Signora in rosa (1916)
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