Há-de flutuar uma cidade...


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Al Berto »»
 
Salsugem (1984) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Há-de flutuar uma cidade...
Dovrà fluttuare una città...


Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outra era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem
ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me
uma pérola no coração. Mas estou só, muito só,
não tenho a quem deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

Dovrà fluttuare una città al crepuscolo della vita
così pensavo... come sarebbero felici le donne
in riva al mare affacciate alla luce calcinata
rammendando la tela delle vele scrutando il mare
e la distanza dell'amore imbarcato

certe volte
un gabbiano si posava sull’acqua
altre era il sole che abbagliava
e un dardo di sangue diffondeva sul lino della notte
i giorni lentissimi... senza nessuno

e non m’hanno mai detto il nome di quell'oceano
io ho atteso seduta sulla soglia... un tempo scrivevo lettere
mi mettevo a guardare il lembo di mare in fondo alla via
così sono invecchiata... credendo che qualche uomo nel
passare
si stupisse della mia solitudine

(molti anni dopo, ora rammento, mi spuntò
una perla nel cuore. Ma sono sola, tanto sola,
non ho nessuno a cui lasciarla.)

e accadde un giorno
che non avvistai più città crepuscolari
e le barche non fecero più scalo alla mia porta
torno a curvarmi sulla tela di questo secolo
riprendo a ricamare o a dormire
che importa
ho sempre dubitato che un giorno mi facesse visita la felicità

________________

Eda Akaltun - Bauci (1972)
Illustrazione per "Le Città Invisibili" di Italo Calvino
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (8) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)