Desde sempre


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Desde sempre
Da sempre


Na minha frente, no cinema escuro e silencioso
Eu vejo as imagens musicalmente rítmicas
Narrando a beleza suave de um drama de amor.
Atrás de mim, no cinema escuro e silencioso
Ouço vozes surdas, viciadas
Vivendo a miséria de uma comédia de carne.
Cada beijo longo e casto do drama
Corresponde a cada beijo ruidoso e sensual da
comédia
Minha alma recolhe a carícia de um
E a minha carne a brutalidade do outro.
Eu me angustio.
Desespera-me não me perder da comédia ridícula e falsa
Para me integrar definitivamente no drama.
Sinto a minha carne curiosa prendendo-me às
palavras implorantes
Que ambos se trocam na agitação do sexo.
Tento fugir para a imagem pura e melodiosa
Mas ouço terrivelmente tudo
Sem poder tapar os ouvidos.
Num impulso fujo, vou para longe do casal impudico
Para somente poder ver a imagem.

Mas é tarde.
Olho o drama sem mais penetrar-lhe a beleza
Minha imaginação cria o fim da comédia que é
sempre o mesmo fim
E me penetra a alma uma tristeza infinita
Como se para mim tudo tivesse morrido.

Davanti a me, nel cinema scuro e silenzioso
Io vedo le immagini musicalmente ritmiche
Narrare la bellezza soave d’un dramma d’amore.
Dietro di me, nel cinema scuro e silenzioso
Sento voci sorde, alterate
Vivere la miseria d’una commedia di carne.
Ogni bacio lungo e casto del dramma
Corrisponde ad un bacio rumoroso e sensuale della
commedia
La mia anima accoglie la carezza dell’uno
E la mia carne la brutalità dell’altro.
Io mi tormento.
M’addolora non estraniarmi dalla commedia ridicola e falsa
Per integrarmi completamente nel dramma.
Sento la mia carne curiosa indurmi all’ascolto delle
parole ardenti
Che i due si scambiano nell’impeto del sesso.
Tento di fuggire verso l’immagine pura e melodiosa
Ma odo terribilmente tutto
Senza potermi tappare le orecchie.
Preso d’impulso fuggo, m’allontano dalla coppia impudica
Per poter vedere solamente le immagini.

Ma è tardi.
Assisto al dramma senza più penetrarne la bellezza
La mia immaginazione crea la fine della commedia che è
sempre la stessa
E mi pervade l’anima una tristezza infinita
Come se per me tutto già fosse morto.

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Roy Lichtenstein
Il bacio (1962)
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