Uma toupeira na calçada


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
A. M. Pires Cabral »»
 
Cobra-d’água (2011) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Uma toupeira na calçada
Una talpa sul marciapiede


Vi uma toupeira na calçada.

As toupeiras não se dão bem em calçadas
– elas que têm no solo arável o seu habitat –
mas aquelas estava ali inexplicavelmente.

Uma aventura que acabou mal,
pensei para comigo.

A toupeira extraviada na calçada
esbracejava (se assim se pode dizer)
como um náufrago que não tem bóia nem tábua.

Tentava refugiar-se na terra
a que pertencia. Mas, desfavorável,
a pedra não se deixava fender das suas unhas,
tal como a água se não deixa nadar
do desespero do náufrago
que não tem tábua nem bóia.

Estava-se mesmo a ver como a coisa ia acabar.

Enquanto tivesse forças, a toupeira,
embora perplexa daquele lugar hostil,
continuaria sempre a esbracejar,
arranhando em vão a pedra da calçada.
Depois, algum gato havia de passar por ali
(há sempre um gato que passa ‘por ali’)
e daria o remate apropriado
a esta história sem história.
No fim de contas, uma toupeira é um rato,
não é verdade? (Pergunta o gato.)

Meditando na sorte da toupeira,
enquanto o gato ainda anda por longe,
ocorreu-me então que a calçada
podia muito bem ser um espelho
e a toupeira naufragada
a nossa imagem reflectida nele.

Toupeira em calçada todos nós.
Ho visto una talpa sul marciapiede.

Le talpe non stanno a proprio agio sui marciapiedi
– loro che hanno nel suolo arabile il loro habitat –
ma quella stava lì inesplicabilmente.

Un’avventura finita male,
pensai tra me e me.

La talpa smarrita sul marciapiede
si sbracciava (se così si può dire)
come un naufrago senza boa né tavoletta.

Tentava di rifugiarsi nella terra
come le spettava. Ma, malvolente,
la pietra non si lasciava scalfire dalle sue unghie,
così come l’acqua non si lascia nuotare
dalla disperazione del naufrago
che non abbia né boa né tavoletta.

Si stava a vedere come sarebbe andata a finire.

Finché avesse avuto forza, la talpa,
pur se spaesata in quel luogo ostile,
avrebbe sempre continuato a sbracciarsi,
graffiando invano la pietra del marciapiede.
Poi, qualche gatto sarebbe passato di lì
(c’è sempre un gatto che passa ‘di lì’)
e avrebbe dato l’epilogo appropriato
a questa storia senza storia.
In fin dei conti, una talpa è un topo,
non è vero? (Domanda il gatto.)

Meditando sulla sorte della talpa,
mentre il gatto ancora sta lontano,
ho pensato allora che il marciapiede
potrebbe bellamente essere uno specchio
e la talpa naufragata
la nostra immagine in esso riflessa.

Talpe su un marciapiede tutti noi.
________________

Franz Marc
Tirol (1914)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (12) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)