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Formigas ou A morte explicada às criancinhas
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Formiche ovvero La morte spiegata ai fanciulli
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Vê-se primeiro uma só formiga. Parece perdida, enleada nas ervas, movendo-se indecisa atrás e adiante, sem saber muito bem que direcção tomar. Lembra um turista que não sabe em que país se encontra nem entende a língua que ali se fala, e procura orientar-se consultando um guia hostil num lugar hostil. 2 Mas na verdade a formiga não está só. Reparando melhor, vêem-se por perto mais duas ou três, com a mesma aparência irresoluta e igualmente em busca de um sentido para a sua errância — — porque há uma voz que as amotina, lhes fala de um destino prometido às formigas desde o início de tudo. 3 Só mais tarde se percebe que essas poucas formigas desgarradas fazem na verdade parte de um plano inexorável e anunciam o que está para chegar. Elas são as batedoras de um exército zeloso de milhões de formigas que vão sem se deter aonde aquela voz as leva: rato morto ou boião de compota. Tudo o que é comestível é um destino. 4 Como nada há na natureza que não tenha um sentido encoberto, ou que não seja espelho de alguma coisa mais vasta e mais severa — — estas formigas rapaces e em tropel, que cumprem ordens sem cuidar de quem as dá, são na verdade uma recordatória de que, por mais venenos que se inventem, por mais refúgios, estamos indefesos contra elas, seremos invadidos, subjugados, pereceremos entre as tenebrosas peças bucais da Formiga-Mor. |
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Dapprima si vede una formica sola. Pare smarrita, confusa tra l’erba, muovendosi indecisa avanti e indietro, senza sapere bene che direzione prendere. Ricorda un turista che non sa in che paese si trovi né comprende la lingua che vi si parla, e cerca di orientarsi consultando una guida ostile in un luogo ostile. 2 Ma in realtà la formica non è sola. Osservando meglio, se ne vedono lì accanto altre due o tre, con lo stesso atteggiamento irresoluto e ugualmente in cerca di un significato per il proprio spaesamento — — perché c’è una voce che le incita, che parla loro d’un destino promesso alle formiche fin dall’inizio di tutto. 3 Solo più tardi s’intuisce che quelle poche formiche sbandate fanno in realtà parte di un piano inesorabile e annunciano ciò che sta per avvenire. Esse sono l’avanguardia d’un esercito solerte di milioni di formiche che avanzano senza posa là dove quella voce le porta: topo morto o barattolo di marmellata. Tutto ciò che è commestibile è un obiettivo. 4 Dato che non v’è nulla in natura che non abbia un senso occulto, o che non sia specchio di qualcosa di più vasto e di più austero — — queste formiche rapaci e in fermento, che eseguono ordini senza curarsi di chi li dà, sono in realtà un promemoria del fatto che, per quanti veleni s’inventino, per quanti rifugi, noi siamo indifesi contro di loro, saremo invasi, soggiogati, soccomberemo dentro il tenebroso apparato boccale della Grande Formica. |
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Salvador Dali Le formiche (1929) |
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