Quarto poema do pescador


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Quarto poema do pescador
Quarta poesia del pescatore


Sei agora que Deus rola nas ondas
vem na última onda ei-lo na espuma
é reflexo brilho incandescência.
Se vou à pesca é para o procurar
se lanço a linha é para ver se o pesco
quando pesco um robalo eu pesco Deus
e é com ele que falo em frente ao mar
ele é eixo a alga o vento leste
a nuvem que lentamente cobre a lua
ele é a minha disposição e a minha comunhão
o fragmento da estrela que se vê ainda
a tainha que salta
ele é o grão da areia e a imensidão da noite
o finito e o infinito
vai na corrente corre-me no sangue
não sei que nome dar-lhe
digo Deus
ele é o laço que me prende e me desprende
o que palpita em mim e o que em mim morre
vem na sétima onda e bate no meu pulso
ele é o aqui o agora o nunca mais
a morte que está dentro
rola na onda
bate na sétima costela do meu corpo
chamo-lhe Deus porque ele é o tudo e é o nada
eternidade que não dura sequer o eu dizê-la
ei-lo na espuma na lua no reflexo
de repente um esticão a cana curva-se
é talvez um robalo de seis quilos
isto é a pesca
o meu falar com Deus ou com ninguém
sozinho frente ao mar.
Ele é o vento a noite a solidão
o robalo que luta contra a morte
e é a minha ligação magnética com Deus
esse umbigo do mundo
que rola sobre as ondas e cai do firmamento
com sua espuma e sua luz e sua noite
chamo-lhe Deus porque não sei como chamar
ao meu ser e não ser
de noite junto ao mar
quando regulo a amostra e sua fluorescência
pescando robalos
ou talvez Deus
e sua ausência.

Ora io so che Dio scivola sulle onde
viene con l’ultima onda eccolo tra la schiuma
è riflesso fulgore incandescenza.
Se vado a pesca, è per cercarlo
se lancio la lenza è per vedere se lo pesco
quando pesco una spigola io pesco Dio
ed è con lui che io parlo davanti al mare
egli è l’albero l’alga il vento dell'est
la nuvola che lentamente copre la luna
egli è la mia volontà e la mia comunione
il frammento di stella che si vede ancora
il cefalo che salta
egli è il granello di sabbia e l'immensità della notte
il finito e l'infinito
va nella corrente, mi scorre nel sangue
non so che nome dargli
dico Dio
egli è il laccio che mi lega e mi slega
ciò che palpita in me ed in me muore
viene con la settima onda e nel mio polso batte
egli è il qui l’adesso il mai più
la morte che sta dentro
scivola sull’onda
batte dietro la settima costola del mio corpo
io lo chiamo Dio perché egli è il tutto e il niente
eternità che non dura neanche il tempo di dirla
eccolo nella schiuma nella luna nel riflesso
d’un tratto una tensione e la canna si curva
può darsi che sia una spigola di sei chili
questa è la pesca
il mio colloquio con Dio o con nessuno
solo davanti al mare.
Egli è il vento la notte la solitudine
la spigola che lotta contro la morte
ed è il mio legame magnetico con Dio
questo ombelico del mondo
che scivola sulle onde e cade dal firmamento
con la sua schiuma e la sua luce e la sua notte
lo chiamo Dio perché non so come chiamare
questo mio essere e non essere
di notte vicino al mare
quando oriento l'esca e la sua fluorescenza
pescando spigole
o forse Dio
e la sua assenza.

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Duccio di Buoninsegna
Pesca miracolosa (1308-1311)
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