Amar


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Amar
Amare


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Che altro può una creatura se non,
tra creature, amare?
amare e dimenticare, amare e amar male
amare, disamare, amare?
sempre, e anche con occhi vitrei, amare?

Che altro può, mi domando, l’essere amoroso,
da solo, in rotazione universale,
se non ruotare insieme, e amare?
amare ciò che il mare trascina alla spiaggia,
ciò che interra, e ciò che, nella brezza marina,
è sale, o esigenza d’amore, o ansia pura?

Amare solennemente le palme del deserto,
ciò che è offerta o attesa d’adorazione,
e amare l’inospitale, l’aspro,
un vaso senza fiori, un suolo di ferro,
e il petto immoto, e la via apparsa in sogno, e
un uccello rapace.

Questo il nostro destino: amore senza limiti,
distribuito tra cose perfide o irrilevanti,
donazione incondizionata a una completa ingratitudine,
e nella conchiglia vuota dell’amore la ricerca timorosa,
paziente, di amore e ancor più amore.

Amare la nostra stessa carenza d’amore,
e nella nostra aridità amare l’acqua implicita,
e il bacio tacito, e la sete infinita.

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Marc Chagall
Io e il mio paese (1911)
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