Família...


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Família...
Famiglia...


Família. “Bolachinhas? Café?
Chá-preto, camomila, tília?”
Desajeitada e constrangida num crescendo triste,
Vai perdendo os seus ditos –
Provérbios e adivinhas que já ninguém sabe como acabam,
Contas que não se deixam enfiar.
A família padece de cada vez mais pó,
Úlceras que rebentam, estrelas doentes,
Rótulas esmagadas, cabeças abertas
Ou simplesmente ausentes,
De crias ferozes que não se conhecem entre si.
A família é cada vez mais silenciosa,
Sufoca, estiola, corre a esconder-se
Em despensas, caves, desvãos
De casas em ruínas ou à venda,
Fecha-se em arcas, entre enxovais
Roídos por traças e memória
Sem referente ou sentido.
Oh, matriarcas, perfume de naftalina,
Oh, patriarcas, outrora tonitruantes
Reduzidos a um élitro, a um zumbido,
A família perdeu moradas e rastos.
O sangue é tinta sempre fresca,
Mas seca depressa. “Já podemos ir embora?”
Desfloram-se gavetas, atravessam-se
A vau testamentos,
Outros tantos rios de esquecimento.

Famiglia. “Biscottini? Caffè?
Tè nero, camomilla, tiglio?”
Dimessa e impacciata in un triste crescendo,
Sta perdendo i suoi motti –
Proverbi e indovinelli che nessuno sa più come finiscono,
Perle che non si riesce ad infilare.
La famiglia va sempre più coprendosi di polvere,
Ulcere che insorgono, stelle malate,
Rotule fratturate, teste sbadate
O semplicemente assenti,
Di cuccioli feroci che non si riconoscono fra loro.
La famiglia è sempre più silenziosa,
Soffoca, si snerva, corre a nascondersi
In dispense, scavi, recessi
Di case in rovina o in vendita,
Si chiude in bauli, tra corredi
Bucati dalle tarme e dalla memoria
Senza rilevanza né significato.
Oh, matriarche, profumo di naftalina,
Oh, patriarchi, un tempo tuonanti
Ridotti ad un’elitra, a un ronzio,
La famiglia ha perso casa e impronta.
Il sangue è vernice sempre fresca,
Ma asciuga in fretta. “Possiamo andarcene ora?”
Si violano cassetti, s’attraversano
A guado testamenti,
Altrettanti fiumi di dimenticanza.

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Marcel Gromaire
Riunione di famiglia (1927)
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