Família...


Nome :
 
Collezione :
Fonte :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (gennaio 2021) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Família...
Famiglia...


Família. “Bolachinhas? Café?
Chá-preto, camomila, tília?”
Desajeitada e constrangida num crescendo triste,
Vai perdendo os seus ditos –
Provérbios e adivinhas que já ninguém sabe como acabam,
Contas que não se deixam enfiar.
A família padece de cada vez mais pó,
Úlceras que rebentam, estrelas doentes,
Rótulas esmagadas, cabeças abertas
Ou simplesmente ausentes,
De crias ferozes que não se conhecem entre si.
A família é cada vez mais silenciosa,
Sufoca, estiola, corre a esconder-se
Em despensas, caves, desvãos
De casas em ruínas ou à venda,
Fecha-se em arcas, entre enxovais
Roídos por traças e memória
Sem referente ou sentido.
Oh, matriarcas, perfume de naftalina,
Oh, patriarcas, outrora tonitruantes
Reduzidos a um élitro, a um zumbido,
A família perdeu moradas e rastos.
O sangue é tinta sempre fresca,
Mas seca depressa. “Já podemos ir embora?”
Desfloram-se gavetas, atravessam-se
A vau testamentos,
Outros tantos rios de esquecimento.

Famiglia. “Biscottini? Caffè?
Tè nero, camomilla, tiglio?”
Dimessa e impacciata in un triste crescendo,
Sta perdendo i suoi motti –
Proverbi e indovinelli che nessuno sa più come finiscono,
Perle che non si riesce ad infilare.
La famiglia va sempre più coprendosi di polvere,
Ulcere che insorgono, stelle malate,
Rotule fratturate, teste sbadate
O semplicemente assenti,
Di cuccioli feroci che non si riconoscono fra loro.
La famiglia è sempre più silenziosa,
Soffoca, si snerva, corre a nascondersi
In dispense, scavi, recessi
Di case in rovina o in vendita,
Si chiude in bauli, tra corredi
Bucati dalle tarme e dalla memoria
Senza rilevanza né significato.
Oh, matriarche, profumo di naftalina,
Oh, patriarchi, un tempo tuonanti
Ridotti ad un’elitra, a un ronzio,
La famiglia ha perso casa e impronta.
Il sangue è vernice sempre fresca,
Ma asciuga in fretta. “Possiamo andarcene ora?”
Si violano cassetti, s’attraversano
A guado testamenti,
Altrettanti fiumi di dimenticanza.

________________

Marcel Gromaire
Riunione di famiglia (1927)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (22) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (4) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)