Coração polar


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Coração polar
Cuore polare


Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.

Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.

Non so di che colore siano le navi
quando naufragano in mezzo alle tue braccia
so che c’è un corpo mai trovato da nessuna parte
e che quel corpo vivo è il tuo corpo immateriale
la tua promessa per i pennoni di tutti i velieri
l’isola profumata delle tue gambe
il tuo ventre di conchiglie e coralli
la grotta dove m’attendi
con le tue labbra di spuma e di salsedine
i tuoi naufragi
e la grande equazione del vento e del viaggio
dove il caso sboccia con i suoi specchi
le sue tracce di rosa e di scoperta.

Non so di che colore sia quella linea
ove la luna s’incontra coi cordami
ma so che in ogni strada c’è un pertugio
un’apertura tra l’abitudine e l’incanto
c’è un’ora in cui l’azzurro prende fuoco
l’ora in cui ti trovo e non ti trovo
c’è un angolo al contrario
una magica geometria dove tutto è possibile
c’è un mare immaginario aperto in ogni pagina
non mi vengano a dire che ormai
le rotte non nascono più dal desiderio
e io voglio la croce del sud delle tue mani
voglio il tuo nome scritto sulle maree
in questa città ove nel punto più assurdo
in un senso vietato o ad un semaforo
tutti i tramonti mi dicono chi sei.

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Maria Helena Vieira da Silva
Naufragio (1944)
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