Carrego comigo


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Carlos Drummond de Andrade »»
 
A rosa do povo (1945) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Carrego comigo
Porto con me


Carrego comigo
há dezenas de anos
há centenas de anos
o pequeno embrulho.

Serão duas cartas?
será uma flor?
será um retrato?
um lenço talvez?

Já não me recordo
onde o encontrei.
Se foi um presente
ou se foi furtado.

Se os anjos desceram
trazendo-o nas mãos,
se boiava no rio,
se pairava no ar.

Não ouso entreabri-lo.
Que coisa contém,
ou se algo contém,
nunca saberei.

Como poderia
tentar esse gesto?
O embrulho é tão frio
e também tão quente.

Ele arde nas mãos,
é doce ao meu tacto.
Pronto me fascina
e me deixa triste.

Guardar um segredo
em si e consigo,
não querer sabê-lo
ou querer demais.

Guardar um segredo
de seus próprios olhos,
por baixo do sono,
atrás da lembrança.

A boca experiente
saúda os amigos.
Mão aperta mão,
peito se dilata.

Vem do mar o apelo,
vêm das coisas gritos.
O mundo te chama:
Carlos! Não respondes?

Quero responder.
A rua infinita
vai além do mar.
Quero caminhar.

Mas o embrulho pesa.
Vem a tentação
de jogá-lo ao fundo
da primeira vala.

Ou talvez queimá-lo:
cinzas se dispersam
e não fica sombra
sequer, nem remorso.

Ai, fardo sutil
que antes me carregas
do que és carregado,
para onde me levas?

Por que não me dizes
a palavra dura
oculta em teu seio,
carga intolerável?

Seguir-te submisso
por tanto caminho
sem saber de ti
senão que te sigo.

Se agora te abrisses
e te revelasses
mesmo em forma de erro,
que alívio seria!

Mas ficas fechado.
Carrego-te à noite
se vou para o baile.
De manhã te levo

para a escura fábrica
de negro subúrbio.
És, de fato, amigo
secreto e evidente.

Perder-te seria
perder-me a mim próprio.
Sou um homem livre
mas levo uma coisa.

Não sei o que seja.
Eu não a escolhi.
Jamais a fitei.
Mas levo uma coisa.

Não estou vazio,
não estou sozinho,
pois anda comigo
algo indescritível.

Porto con me
da decine d’anni
da centinaia d’anni
questo pacchettino.
 
Saranno due lettere?
sarà un fiore?
sarà un ritratto?
magari un fazzoletto?
 
Non ricordo già più
dove io l’ho trovato.
Se fu un regalo
o se era stato rubato.
 
Se discesero gli angeli
tenendolo tra le mani,
se galleggiava sul fiume,
o si librava nell’aria.
 
Non oso scartarlo.
Ciò che contiene,
o se qualcosa contiene,
non lo saprò mai.
 
Ma come potrei
compiere un tale gesto?
Il pacchetto è assai freddo,
eppure mi dà calore.
 
Mi brucia tra le mani,
è dolce al mio tatto.
M’affascina d’un tratto
e poi mi lascia triste.
 
Serbare un segreto
dentro di sé e con sé,
non volerlo sapere
o volerlo fin troppo.
 
Serbare un segreto
dai propri stessi occhi,
nascosto nel sonno,
sottratto alla memoria.
 
La bocca esercitata
saluta gli amici.
La mano stringe la mano,
il petto si dilata.
 
Dal mar viene l’appello,
le cose mandano grida.
Il mondo ti chiama:
Carlos! Non rispondi?
 
Io voglio rispondere.
La strada infinita
prosegue oltre il mare.
Io voglio camminare.
 
Ma il pacchetto è pesante.
Viene la tentazione
di gettarlo in fondo
al primo fosso.
 
O magari bruciarlo:
le ceneri si disperdono
e non ne resta neppure
l'ombra né il rimorso.
 
Ah, esile fardello
che mi conduci avanti
da chi tu sei portato,
dove tu mi conduci?
 
Perché tu non mi dici
la parole grave
nascosta nel tuo seno,
intollerabile peso?
 
Seguirti, ubbidiente
lungo un tal cammino
senz’altro sapere
se non che ti seguo.
 
Se tu ora ti aprissi
e ti rivelassi
pur mostrando una forma errata,
che gran sollievo sarebbe!
 
Ma tu resti chiuso.
Io ti tengo di notte
se vado a ballare.
Il mattino ti porto
 
nella fabbrica scura
del nero quartiere.
Sei, di fatto, un amico
segreto e evidente.
 
Perderti sarebbe
perdere me stesso.
Io sono un uomo libero
ma porto una cosa.
 
Non so cosa sia.
Non l’ho scelta io.
Non l’ho mai guardata.
Ma porto una cosa.
 
Non sono vuoto,
non sono solo,
cammina con me
qualcosa d’indescrivibile.

________________

Jean-Michel Folon
Sogno in valigia (1975)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (12) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (109) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (467) Pássaro de vidro (52) Pedro Mexia (40) Poemas dos dias (28) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)