Viver sempre também cansa...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poeta Militante I (1977) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Viver sempre também cansa...
Anche di viver sempre ci si stanca...


Viver sempre também cansa.
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
Folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
“Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela.”

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...
Anche di viver sempre ci si stanca.
Il sole è sempre lo stesso e il cielo blu
ora è blu, d’un bel blu nitido,
ora è grigio, nero, quasi verde...
Ma mai che abbia un colore inatteso.

Il mondo non si modifica.
Gli alberi danno fiori,
foglie, frutti e uccelli
come macchine verdi.

Anche i paesaggi non si trasformano.
Non cade neve rossa,
non ci sono fiori volanti
la luna non ha occhi
e nessuno dipingerà occhi alla luna.

Tutto è uguale, meccanico e preciso.

Come se non bastasse, gli uomini sono uomini.
Piangono, bevono, ridono e digeriscono
senza immaginazione.

E ci sono quartieri miserabili, sempre gli stessi,
discorsi di Mussolini,
guerre, momenti critici,
automobili da corsa...

E m’impongono di vivere fino alla Morte!

Ma allora non era più umano
morire un pochettino,
di tanto in tanto,
e ricominciare dopo,
ritrovando ogni cosa rinnovata?

Ah! se potessi suicidarmi per sei mesi,
morire steso su un divano
con la testa posata su un cuscino,
fiducioso e sereno sapendo
che tu mi veglieresti, amore mio.

E se venisse qualcuno a chiedere di me,
dovresti dire con quel tuo sorriso
ove arde un cuore in melodia:
“Si è ucciso stamattina.
Ora non vorrei resuscitarlo
per una bazzecola”.

E verresti poi, dolcemente,
a vegliare su di me, lieve e premurosa,
in punta di piedi, per non svegliare
la Morte ancora bimba in braccio a me...
________________

Emil Nolde
Sky and sea (1930)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (107) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (24) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)