Desfloramento


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Desfloramento
Sfogliatura


A Manuela Porto

Venho das noites escuras
e aprendi a ver nas trevas
e a ler nas trevas.
Venho das noites escuras
e sei o grande soluço das sombras
e os cânticos impotentes dos peregrinos.
Venho das noites escuras
daí o meu amor imenso pela luz!
Quanto mais treva era a treva
melhor eu aprendia a amar a luz do sol
e dos meus olhos sempre mais e mais abertos
a luz interior irradiando aniquilava as sombras...

E sendo sempre noite já a pouco e pouco era mais
manhã.
E cada vez mais enorme e definitiva a manhã subia
apesar da treva apesar do silêncio apesar de tudo!
O negrume da noite era uma incandescência prenhe.

A flor romântica das trevas desfolhou-se-me nos dedos.
E então nasci.
E então vi que estava nu
e alegrei-me por estar nu
enfim!
Sorvi os frutos da terra
e já não me souberam a papel impresso!
Sacudi a poeira do que me tinham ensinado
e comecei então a saber.

Sob as palavras surgiu enfim a voz
e a canção ardente da vida já não encontrou algodão
nos meus ouvidos.

ah! só quem vem das trevas e das noites escuras
pode amar assim o imenso mundo do sol!

A Manuela Porto

Vengo da notti oscure
e ho imparato a vedere nelle tenebre
e a leggere nelle tenebre.
Vengo da notti oscure
e conosco l’intenso singhiozzare delle ombre
e i cantici impotenti dei pellegrini.
Vengo da notti oscure
da lì il mio amore immenso per la luce!
Quanto più tenebrosa era la tenebra
tanto meglio imparavo ad amare la luce del sole
e dai miei occhi sempre un po’ più aperti
la luce che irradiava dall’interno annullava le ombre...

E pur essendo sempre notte, a poco a poco si faceva
mattino.
Ed ogni volta più enorme e definitivo il mattino saliva
malgrado la tenebra malgrado il silenzio malgrado tutto!
Il nereggiare della notte era un’incandescenza completa.

Il fiore romantico delle tenebre mi si sfogliò tra le dita.
E allora nacqui.
E allora vidi che ero nudo
ed esultai per esser nudo
finalmente!
Assaporai i frutti della terra
e non sapevano già più di carta stampata!
Rimossi la polvere da ciò che mi avevano insegnato
e allora cominciai a sapere.

Da sotto le parole sbucò infine la voce
e la canzone ardente della vita non trovò più cotone
nelle mie orecchie.

ah! solo chi viene dalle tenebre e dalle notti oscure
può amare così l’immenso mondo del sole!

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Anselm Kiefer
Capo Nord (1975)
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