Versos de amor


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Versos de amor
Versi d’amore


A um poeta erótico

Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a... Ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.

Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!

Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.

Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.

Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não estar pegando!

É a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!

Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Mársias - o inventor da flauta -
Vou inventar também outro instrumento!

Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo.

Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d'alma!

A un poeta erotico

Sembra esser molto zuccherina quella canna.
La sbuccio, l’assaggio, la degusto... Lusinga infida!
L’amore, poeta, è come la canna acida,
Ed ogni bocca, che non lo prova, inganna.

Volli saper cosa fosse l’amore, per esperienza,
Ed oggi che, finalmente, ne conosco il contenuto,
So di poter dominare, io che idolatro lo studio,
Tutte le scienze meno questa scienza!

Certo, non è questo l’amor che io, inquieto, amo
Ma certo, è l’egoista amor che tu con fermezza
Ami, al contrario di me. Di conseguenza
Tu chiami amore ciò ch’io così non chiamo.

Un ideale opposto al mio ideale tu conservi.
Diverso è, infatti, il punto di vista
A partir dal quale io osservo l’amor, dall’egoista
Modo di vedere, a partir dal quale tu l’osservi.

Perché l’amore, così come io uso amarlo,
È Spirito, è etere, è sostanza fluida,
È come l’aria di cui ci si prende cura,
Abbi cura, però, di non esserne schiavo!

È la transustanziazione degli istinti rudi,
Del tutto imponderabile e impalpabile,
Che passa sopra la carne miserabile
Come passa l’airone sopra le paludi!

Per poter riprodurre un tale sentimento
D’ora in avanti, porgi l’orecchio cauto,
Como Marsia - l’inventore del flauto -
Anch’io inventerò un nuovo strumento!

Ma di siffatta maniera intendo farlo,
Che l’idioma nel quale io ti parlo
Tutte le lingue possan declinarlo
E tutti gli uomini possano comprenderlo.

Affinché, poi, in vista dell’ultima calma
Il mio cuore malato, non ricada disfatto,
Integralmente floscio e sfibrato,
Come un sacco vuoto dentro l’anima!

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Marc Chagall
Gli amanti di Vence (1950)
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