Escuto o silêncio


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Escuto o silêncio
Ascolto il silenzio


Escuto o silêncio: em Abril
os dias são
frágeis, impacientes e amargos;
os passos
miúdos dos teus dezasseis anos
perdem-se nas ruas, regressam
com restos de sol e chuva
nos sapatos,
invadem o meu domínio de areias
apagadas,
e tudo começa a ser ave
ou lábios, e quer voar.

Um rumor cresce lentamente,
oh, lentamente
não cessa de crescer,
um rumor de pálpebras
ou pétalas
sobe de terraço em terraço,
descobre um dia
de cinzas com vestígios de beijos.

Um só rumor de sangue
jovem:
dezasseis luas altas,
selvagens, inocentes e alegres,
ferozmente enternecidas;
dezasseis potros
brancos na colina sobre as águas.

Como um rio cresce, cresce um rumor;
quero eu dizer,
assim um corpo cresce, assim
as ameixieiras bravas
do jardim,
assim as mãos,
tão cheias de alegria,
tão cheias de abandono.

Um rumor de sementes,
de cabelos
ou ervas acabadas de cortar,
um irreal amanhecer de galos
cresce contigo,
na minha noite de quatro muros,
no limiar da minha boca,
onde te demoras a dizer-me adeus.

Escuto um rumor: é só silêncio.
Ascolto il silenzio: in aprile
i giorni sono
fragili, impazienti ed amari;
i passi
delicati dei tuoi sedici anni
per le strade si perdono, ritornano
con avanzi di sole e di pioggia
nelle scarpe,
invadono il mio feudo di sabbie
estinte,
e tutto si tramuta in uccello
o in labbra, e vuole volare.

Un suono va crescendo lentamente,
oh, lentamente
non smette di crescere,
un fruscio di palpebre
o di petali
sale di terrazzo in terrazzo,
rivela una giornata
di ceneri con tracce di baci.

Un unico suono di sangue
in fiore:
sedici lune alte,
selvagge, innocenti e gioiose,
spietatamente intenerite;
sedici puledri
bianchi sulla collina sopra le acque.

Come cresce un fiume, cresce un suono;
intendo dire,
un corpo cresce così, come
i pruni selvatici
del giardino,
come le mani,
così piene di gioia,
così piene di fervore.

Un suono di sementi,
di capelli
o d’erbe tagliate di fresco,
un irreale risveglio di galli
cresce con te,
nella mia notte fra quattro pareti,
sul limitare della mia bocca,
ove t’attardi nel dirmi addio.

Ascolto un suono: non è che silenzio.

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Nina Urlichs
Movement blue-II (2016)
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