O Afogado


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Cecilia Meireles »»
 
Retrato Natural (1949) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


O Afogado
L’affogato


Pelo mar azul,
pela água tão clara,
caminhava o morto
esta madrugada.

Subia nas vagas,
bordado de espuma,
seu corpo sem roupa,
sem força nenhuma.

O sol cor-de-rosa,
nascido nas águas,
via o navegante
procurar a praia.

Sem voz e sem olhos,
chegava de longe.
Chegava - e ficara
além do horizonte.

Por dias e noites
viera atravessando
caminhos salgados
como o suor e o pranto.

Dançarino estranho
de passos macabros,
com o corpo despido
e grossos sapatos.

Dançando e dançando,
por noites e dias,
chegou dentro da alva
às areias frias.

O mar e a neblina
que um morto navega
são muito mais fáceis
que, aos vivos, a terra.

Vencera a inconstante
planície intranquila
numa silenciosa,
cega acrobacia.

E então se deteve
seu corpo dobrado
por aquele imenso,
póstumo cansaço.

Era como os peixes
finalmente quietos:
o peito, gelado
e os olhos, abertos.

Um fio de sangue
corria em seu rosto
irreconhecível
de secreto morto.

Miravam com pena
sua dúbia face.
Quem era? Quem fora?
Nas ondas gastara-se.

Nu como nascera
ali se caía.
Só tinha os sapatos:
lembrança da vida.
Nell’azzurro mare,
nell’acqua così chiara,
procedeva il morto
sul far dell’aurora.

Saliva sulle onde,
bordato di schiuma,
il suo corpo svestito,
senza forza alcuna.

Il sole color di rosa,
spuntato dall’acqua,
vedeva il navigante
in cerca della spiaggia.

Senza voce e senz’occhi,
giungeva da distante.
Giungeva - e restava
al di là dell’orizzonte.

Per giorni e per notti
aveva attraversato
sentieri salati
come il sudore e il pianto.

Ballerino bizzarro
dai lugubri passi,
col corpo spogliato
e scarponi grossi.

Danzando e danzando,
per giorni e nottate,
giunse prima dell’alba
alle sabbie gelate.

Il mare e la nebbia
che un morto attraversa
non son così ostici
come, ai vivi, la terra.

Superò l’incostante
distesa agitata
in una silente,
cieca acrobazia.

E infine trovò approdo
il suo corpo prostrato
da quell’immenso,
postumo sfinimento.

Era come quei pesci
finalmente quieti:
il petto, gelato
e gli occhi, aperti.

Un filo di sangue
correva sul suo volto
irriconoscibile
d’incognito morto.

Guardavan con pena
quel sembiante ignoto.
Chi fu? Chi era?
Tra l’onde consunto.

Nudo com’era nato
lì s’era abbandonato.
Non aveva che le scarpe
in ricordo della vita.
________________

Odilon Redon
L'annegato (1884)

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (19) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (429) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (21) Poemas Sociais (30) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)