O Afogado


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O Afogado
L’affogato


Pelo mar azul,
pela água tão clara,
caminhava o morto
esta madrugada.

Subia nas vagas,
bordado de espuma,
seu corpo sem roupa,
sem força nenhuma.

O sol cor-de-rosa,
nascido nas águas,
via o navegante
procurar a praia.

Sem voz e sem olhos,
chegava de longe.
Chegava - e ficara
além do horizonte.

Por dias e noites
viera atravessando
caminhos salgados
como o suor e o pranto.

Dançarino estranho
de passos macabros,
com o corpo despido
e grossos sapatos.

Dançando e dançando,
por noites e dias,
chegou dentro da alva
às areias frias.

O mar e a neblina
que um morto navega
são muito mais fáceis
que, aos vivos, a terra.

Vencera a inconstante
planície intranquila
numa silenciosa,
cega acrobacia.

E então se deteve
seu corpo dobrado
por aquele imenso,
póstumo cansaço.

Era como os peixes
finalmente quietos:
o peito, gelado
e os olhos, abertos.

Um fio de sangue
corria em seu rosto
irreconhecível
de secreto morto.

Miravam com pena
sua dúbia face.
Quem era? Quem fora?
Nas ondas gastara-se.

Nu como nascera
ali se caía.
Só tinha os sapatos:
lembrança da vida.
Nell’azzurro mare,
nell’acqua così chiara,
procedeva il morto
sul far dell’aurora.

Saliva sulle onde,
bordato di schiuma,
il suo corpo svestito,
senza forza alcuna.

Il sole color di rosa,
spuntato dall’acqua,
vedeva il navigante
in cerca della spiaggia.

Senza voce e senz’occhi,
giungeva da distante.
Giungeva - e restava
al di là dell’orizzonte.

Per giorni e per notti
aveva attraversato
sentieri salati
come il sudore e il pianto.

Ballerino bizzarro
dai lugubri passi,
col corpo spogliato
e scarponi grossi.

Danzando e danzando,
per giorni e nottate,
giunse prima dell’alba
alle sabbie gelate.

Il mare e la nebbia
che un morto attraversa
non son così ostici
come, ai vivi, la terra.

Superò l’incostante
distesa agitata
in una silente,
cieca acrobazia.

E infine trovò approdo
il suo corpo prostrato
da quell’immenso,
postumo sfinimento.

Era come quei pesci
finalmente quieti:
il petto, gelato
e gli occhi, aperti.

Un filo di sangue
correva sul suo volto
irriconoscibile
d’incognito morto.

Guardavan con pena
quel sembiante ignoto.
Chi fu? Chi era?
Tra l’onde consunto.

Nudo com’era nato
lì s’era abbandonato.
Non aveva che le scarpe
in ricordo della vita.
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Odilon Redon
L'annegato (1884)

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