Elogios de Mario Quintana - II


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Elogios de Mario Quintana - II
Elogi di Mario Quintana - II


Apontamento sobrenatural

Em um escuso bar
encontro Mario Quintana.
O anjo-poeta disfarça as asas
sob o capote cinza
para evitar meu espanto.
Tem a barba escanhoada.
Tanto tempo morando em hotéis,
pegou jeito de hóspede eterno.
Dou-lhe um abraço comovido.
Ele nem tanto.
Pergunta se tenho medo de fantasmas.
Digo que dele não, só um pouquinho,
mas por via das dúvidas, e benzido,
trouxera um pequeno crucifixo de prata.
Indago se o caixão é mesmo de mogno
conforme seu próprio vaticínio.
Balança a cabeça, encabulado,
de nada disso se lembra.
É um bar escuso, mas comum,
e não há nenhum retrato do marechal Deodoro na parede
proclamando a República,
nem mesas com tampos de mármore.
O frio de Porto Alegre,
o barzinho perdido na noite nos obriga:
peço um cálice de vinho do Porto,
ele uma caninha dupla e pura,
da água mais cristalina,
estrela e guia na turbação.
Bebemos ali com gosto.
Lembro a Rua dos cataventos,
até hoje ventando no meu peito,
e, sobretudo,
os poemas do Aprendiz de feiticeiro.
Não pareceu se importar muito com isso,
talvez preocupado com questões etéreas.
Ficamos longo tempo em silêncio
como se estivéssemos meditando.
Súbito consultou o esquisito relógio,
relógio esverdeado e sem ponteiros,
e ficou em pé, num sobressalto.
Alma que perdeu a hora.
Percebi que iria embora sem se despedir.
Por fim deu um riso maroto,
fez um gesto largo
de mágico no circo,
e sumiu no ar
no estouro de uma bolha de sabão.


Annotazione soprannaturale

In un recondito bar
incontro Mario Quintana.
L’angelo-poeta nasconde le ali
sotto il cappotto grigio
perché non mi spaventi.
Ha la barba ben fatta.
A vivere tanto tempo in albergo,
ha preso quest’aria d’eterno ospite.
Lo stringo in un abbraccio, commosso.
Lui neanche tanto.
Mi chiede se ho paura dei fantasmi.
Gli dico che di lui no, solo un pochino,
ma per precauzione, e benedetto,
mi son portato un piccolo crocefisso d’argento.
M’informo se la bara è davvero di mogano
stando al suo stesso vaticinio.
Scuote la testa, imbarazzato,
non se ne rammenta affatto.
È un bar recondito, ma semplice,
e sul muro non c’è un ritratto del maresciallo Deodoro
mentre proclama la Repubblica,
né tavolini col piano di marmo.
Il freddo di Porto Alegre,
il baretto sperduto nella notte ci sollecita:
io ordino un bicchiere di Porto,
lui un grappino doppio e puro
come la più cristallina delle acque,
stella e guida nel turbamento.
Beviamo con piacere.
Mi torna alla mente la Via delle girandole,
che ancor oggi mi mulinano nel petto,
e, soprattutto,
le poesie di Apprendista stregone.
Non sembrò che gliene importasse molto,
forse più immerso in questioni eteree.
A lungo rimanemmo in silenzio
come se stessimo meditando.
D’un tratto consultò lo strano orologio,
orologio verdognolo e senza lancette,
e s’alzò in piedi, con un sobbalzo.
Anima che ha fatto tardi.
Pensai che se ne andasse senza salutare.
Rise infine in modo birichino,
fece un ampio gesto
da mago di circo,
e scomparve per aria
allo scoppiare d'una bolla di sapone.

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Henrique Bernardelli
Proclamazione della República (1900 ca.)
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