a ama de leite


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a ama de leite
la balia


minha mãe não teve mais leite
para dar de mamar quando eu nasci
— e quem iria alimentar a criança?
procuraram em toda a vizinhança
e nada. Ninguém. O desespero tomou
conta de casa. Foi quando alguém
então disse o nome de dona Geni
dona Geni logo concordou
com um sorriso e fidalguia
e lá em casa agora era só felicidade
minha irmã Rosana, dia após dia
ia e vinha de lá pra cá subindo
e descendo as ladeiras da cidade
levando mamadeiras vazias
e trazendo mamadeiras cheias de leite
leite forte, leite bom de verdade
e em meio a essa confusão láctea
eu bebia e me alimentava e crescia
me nutrindo daquele leite puro e fino
dona Geni, sempre sorrindo seu riso
herança dos ancestrais africanos
dona Geni, tão amada por todos dali
era enfermeira e sarava as feridas
— era cheia de amores! Ninguém seria
capaz de lhe atirar uma pedra sequer
eu mamando, me nutrindo de sua herança
e minha mãe chorando porque não
tinha leite para amamentar a última criança
minha mãe chorando e agradecendo
à dona Geni por haver salvo seu filhinho
quão amáveis as amas de leite que
alimentaram os filhos fortes do Brasil
com sabedoria, com nobreza, com carinhos
ave, minha ama, que me ensinou a amar!
obrigado pelo leite, pela gentileza, pela teta
que me alimentou, me fez forte – e poeta!
mia madre non aveva più latte
per allattarmi quando io nacqui
— e chi mai avrebbe nutrito il neonato?
andarono a chiedere a tutti i vicini
e niente. Nessuno. In casa regnava
la disperazione. Fu allora che qualcuno
fece il nome di donna Geni
donna Geni accettò subito
sorridendo con nobiltà
ed ora là in casa non c’era che felicità
mia sorella Rosana, giorno dopo giorno
andava e veniva su e giù salendo
e scendendo le scalinate della città
portando via poppatoi vuoti
e riportando poppatoi pieni di latte
latte forte, latte davvero buono
e in mezzo a questa confusione lattea
io bevevo e mi alimentavo e crescevo
nutrendomi di quel latte squisito e puro
donna Geni, sempre col sorriso sulle labbra
eredità degli antenati africani
donna Geni, così amata da tutti
era infermiera e curava le ferite
— era piena d’amore! Nessuno sarebbe
capace di tirarle neppure un sassolino
e io poppavo, mi nutrivo della sua eredità
e mia madre piangeva perché non
aveva latte per allattare il suo ultima bimbo
mia madre piangeva e ringraziava
donna Geni per aver salvato il suo figlioletto
com’erano generose le balie che
alimentarono i forti figli del Brasile
con saggezza, con nobiltà, con affetto
ave, mia balia, che mi insegnò ad amare!
grazie per il latte, per la gentilezza, per la tetta
che mi alimentò, mi rese forte – e poeta!
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Frida Kahlo
La mia balia ed io (1937)
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