chorinho n.5


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chorinho n.5
chorinho n.5


ah, Itaquara sombra
Itaquara sol
 
bananas apodrecendo ao sol nas quitandas
velhos de olhos profundos nas janelas
somente os relógios de pêndulo falavam do tempo
 
havia crianças nas ruas cantando cirandas
“Três, três, passará
derradeiro há de ficar
bom vaqueiro, bom vaqueiro.”
 
Itaquara terra
Itaquara vento...
 
...e numa tarde tão rara
eu empinava papagaios de papel
e o vento era tão forte
que parecia querer me levar para os céus...
 
ah, Itaquara azul
Itaquara verde
 
nos casebres de palha da Rua do Cemitério
infestados de percevejos
eu descobria tudo que era belo e eterno
 
Itaquara mapa
Itaquara tempo
 
...e um velho me contava histórias
pelas tardes afora e a sombra da algarobeira
era do tamanho do universo...
 
ah, Itaquara riso
Itaquara sonho
 
e havia serenatas de amor
nos jardins, nas noites claras
e as estrelas se banhavam nuas na lagoa
 
Itaquara céu
Itaquara cores
 
...e ele vinha com seu jeep vermelho
e dava uma volta na nossa rua
eu e Zé Perequeté na garupa éramos felizes
e achávamos que todas as pessoas eram felizes
e que o mundo era do tamanho de nossa rua
 
ah, Itaquara vau
Itaquara lua
 
e um dia fomos escondidos tomar banho num
 aguadouro
no meio da serra, no mangueiro de seu Jaime Almeida
— onde o gado bebia água — e sujos de esterco e de
 lama
descobríamos o que era a vida
 
Itaquara chuva
Itaquara flor
 
e passavam as boiadas de seu Lu vindas de Goiás
ou do Mato Grosso, e a cidade inteira parava
para assistir a gigantesca boiada se arrastando
 lentamente
os vaqueiros aboiando e a boiada andando pela
 velha estrada
e como era belo aquele antigamente!
 
ah, Itaquara rosa
Itaquara vida
 
foi numa tarde de cor amarela
que eu conheci a mais que bela e ela me deu um
 arco-íris
e quanta vida vivida e esquecida...
 
ah, Itaquara da minha infância para sempre perdida!
ah, Itaquara ombra
Itaquara sole
 
banane che si guastavano al sole sulle bancarelle
vecchi dallo sguardo profondo alle finestre
soltanto gli orologi a pendolo parlavano del tempo
 
c’erano bambini per le vie cantando girotondi
"Tre, tre, passerà
solo l’ultimo resterà
buon bovaro, buon bovaro".
 
Itaquara terra
Itaquara vento
 
... e in rari pomeriggi
io facevo librare aquiloni
e il vento era così forte
che pareva mi volesse portare su in cielo...
 
ah, Itaquara blu
Itaquara verde
 
nelle capanne di paglia della Via del Cimitero
infestate di cimici
io ho scoperto tutto ciò che era bello ed eterno
 
Itaquara carta
Itaquara tempo
 
... e un vecchio mi raccontava storie
tutti i pomeriggi e l’ombra della algarobeira
aveva le dimensioni dell'universo...
 
ah, Itaquara riso
Itaquara sogno
 
e c’erano serenate d’amore
nei giardini, nelle notti chiare
e le stelle si bagnavano nude nella laguna
 
Itaquara cielo
Itaquara colori
 
... e lui veniva con la sua jeep rossa
e faceva un giro per la nostra strada
io e Zé Perequeté seduti dietro eravamo felici
e pensavamo che tutti quanti fossero felici
e che il mondo avesse le dimensioni della nostra strada.
 
ah, Itaquara guado
Itaquara luna
 
e un giorno di nascosto andammo a fare il bagno in un
 trogolo
in mezzo ai colli, nel recinto di Jaime Almeida
– dove il bestiame beveva l’acqua – e sporchi di sterco
 e fango
noi scoprimmo che cos’era la vita
 
Itaquara pioggia
Itaquara fiore
 
e passavano le mandrie di padron Lu venute dal Goiás
o dal Mato Grosso, e tutta la città s’arrestava
per ammirare la gigantesca mandria che lenta
 si trascinava
coi bovari a incitare e la mandria ad avanzare lungo
 la vecchia pista
e com’erano belli quei tempi d’una volta!
 
ah, Itaquara rosa
Itaquara vita
 
fu in un pomeriggio giallo di colore
che io conobbi la bella tra le belle ed ella mi donò un
 arcobaleno
e quanta vita vissuta e poi scordata...
 
ah, Itaquara della mia infanzia per sempre perduta!
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Giovanni Fattori
Mandrie maremmane (1893)
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