o assassinato do anjinho


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o assassinato do anjinho
l'assassinio dell'angioletto


naquele tempo arcaico e circunscrito
fulana apareceu grávida no arraial
mas escondeu a barriga nove meses
debaixo de um grande avental branco
na hora que deu as dores fechou a casa
entrou para o quarto pegou o balaio
de capim que colhera antes de tudo
e pôs debaixo da cama de estrado
depois que o anjinho nasceu ela o matou
— não se sabe como — e o escondeu
debaixo do capim no balaio debaixo da cama
depois disso tomou um bom banho
vestiu um vestido novo e saiu para a rua
mas os vizinhos tinham ouvido um choro
forte e estranho de criança na casa
arrombaram a porta e saíram procurando
achando o anjinho morto debaixo do capim
dentro do balaio debaixo da cama
assustados com o crime deram queixa
na delegacia de polícia na vila
o delegado abriu inquérito e veio a intimação
ao saberem do ocorrido sem demora
os fazendeiros ricos da época invadiram
armados a delegacia e rasgaram
o processo e compraram o silêncio da lei
com remorso levaram o anjinho para ser
enterrado no cemitério municipal
em uma procissão fúnebre formal
pois todos eles eram os pais desnaturados
do pobre anjinho sem pai
in quel tempo arcaico e limitato
una tizia arrivò gravida nella contrada
ma tenne nascosta la pancia nove mesi
sotto un grande grembiule bianco
quando arrivarono le doglie chiuse la casa
entrò nella stanza prese il cesto
d’erbe che aveva raccolto già da prima
e lo mise sotto il letto d’assi di legno
dopo che l’angioletto nacque l’ammazzò
— non si sa come — e lo nascose
sotto l’erba nel cesto sotto il letto
dopo di ciò fece un bel bagno
indossò un vestito nuovo e uscì per strada
ma i vicini avevano sentito un pianto
forte e strano di neonato nella casa
forzarono la porta e si misero a cercare
trovando l’angioletto morto sotto l’erba
dentro il cesto sotto il letto
sconvolti per il crimine fecero denuncia
alla stazione di polizia nel villaggio
il funzionario aprì l’inchiesta e seguì la denuncia
immediata sapendo quanto era accaduto
i ricchi fazendeiros di allora invasero
armati la stazione di polizia e fecero a pezzi
il processo e comprarono il silenzio della legge
con rimorso prelevarono l’angioletto per
farlo seppellire nel cimitero municipale
con una processione funebre formale
poiché tutti loro erano i padri snaturati
del povero angioletto senza padre
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Oswaldo Guayasamin
Occhi e mani (1976)
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